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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Entre Areias e Segredos



 “Entre Areias e Segredos”

Capítulo 1 – Distância Necessária

O ar da cidade pesava nos ombros de Rafaela. Desde que completara dezoito anos, tudo parecia exigir decisões, pressa, maturidade. A escola tinha acabado, os amigos se dispersaram, e em casa… o clima não era o melhor. Por isso, quando sua avó ligou, convidando-a para passar um tempo no sítio perto da praia, ela não pensou duas vezes.

A viagem foi silenciosa, só ela e seus fones de ouvido. Mas assim que o carro chegou à entrada da casa dos avós, Rafaela sentiu algo mudar dentro de si. O portão de madeira, o cheiro de mato e maresia, o latido do velho cachorro da família. Tudo ali era familiar e, ao mesmo tempo, renovador.

Ela desceu do carro com um suspiro e caminhou até a varanda, onde a avó a recebeu com um abraço apertado e cheiro de bolo de fubá.

— Minha menina cresceu — disse, apertando-a nos braços. — Vai ser bom te ter aqui um tempo.

E foi ali que Rafaela viu Raline pela primeira vez em anos.

Sentada no degrau da varanda, com um livro nas mãos e os cabelos presos de forma despretensiosa, Raline ergueu os olhos ao som do portão. Seus olhos castanho-claros brilharam ao ver a sobrinha de criação.

— Rafa! — disse, levantando-se com um sorriso.

Rafaela se aproximou, meio sem jeito. Sabia que Raline não era tia de sangue, mas sempre ouvira o pai falar dela como uma irmã. Criadas juntas pelos mesmos avós, elas tinham esse laço quase fraternal. Mas, diante daquela mulher de 27 anos, de corpo firme e sorriso sereno, Rafaela sentiu um leve frio na barriga. Algo que não queria nomear.

— Você está tão diferente — disse Raline, observando-a de cima a baixo com ternura.

— Você também — respondeu Rafaela, sem saber onde colocar os olhos.

Nos primeiros dias, a convivência foi leve e divertida. Os avós mimavam Rafaela, enchendo sua mala de frutas, bolos e afeto. Raline era uma companhia gentil e divertida — acordava cedo para caminhar, lia muito, fazia playlists para ouvir enquanto cozinhavam juntas.

E Rafaela gostava disso.

Ela se sentia segura ali. Mas, ao mesmo tempo, havia algo crescendo dentro dela. Um incômodo doce, uma curiosidade inquieta.

E então, numa manhã de domingo, os avós anunciaram:

— Vamos fazer aquele cruzeiro que estávamos adiando há anos. Ficamos só essa semana com vocês e depois vamos viajar.

Rafaela sorriu, mas por dentro sentiu o estômago revirar. Ficaria sozinha com Raline. Só as duas. Durante dias.

E algo dentro dela já sabia que aquela casa — e a vida como conhecia — jamais seriam as mesmas.



Capítulo 2 – Laços Inesperados

A semana com os avós passou mais rápido do que Rafaela esperava. Entre almoços fartos, jogos de cartas e cochilos na rede, ela quase esqueceu o motivo de estar ali: fugir da confusão da sua vida. Mas havia outra coisa — ou melhor, alguém — que a distraía mais do que qualquer pôr do sol.

Raline.

Sempre sorrindo, sempre disposta. Ela era daquelas pessoas que sabiam preencher o ambiente, sem fazer esforço. E Rafaela se pegava observando a maneira como ela prendia o cabelo, como mordia o lábio quando lia, como dançava sozinha na cozinha ouvindo Elis Regina.

Na véspera da viagem dos avós, elas saíram as quatro para jantar em um restaurante de beira de praia. Rafaela usava um vestido leve, e pela primeira vez sentiu o olhar de Raline sobre si de um jeito diferente — sutil, rápido, mas presente. Aquilo fez seu coração acelerar.

Na manhã seguinte, os avós partiram com malas e promessas de fotos. Rafaela ficou na varanda, acenando até o carro sumir na estrada de terra.

— E agora somos só nós duas — disse Raline, surgindo ao lado com duas canecas de café.

— Parece até começo de filme — Rafaela respondeu, rindo.

— Filme de terror? — brincou Raline.

— Acho que mais comédia romântica.

As duas se olharam por um segundo a mais do que o necessário. E então viraram o rosto, rindo, como se tivessem pensado a mesma coisa, mas nenhuma tivesse coragem de dizer em voz alta.

A convivência entre elas se intensificou. Tomavam café juntas, passeavam de bicicleta pela praia deserta, exploravam trilhas no mato atrás da casa. Rafaela estava mais leve, mais feliz do que se lembrava de ter estado nos últimos meses. Mas também mais confusa.

Uma noite, estavam no sofá assistindo a um filme. Raline usava um short curto e uma regata solta. Rafaela sentia a pele da perna dela roçar levemente na sua. Tentava ignorar, mas a mente teimava em imaginar.

— Posso pintar suas unhas amanhã? — perguntou Raline de repente.

— Pode… — Rafaela respondeu, surpresa. — Mas você sabe?

— Eu invento, ué. Vai ser divertido.

Elas riram. Mas por dentro, o riso de Rafaela era nervoso. Porque queria mais que as unhas pintadas. Queria aquele toque. Queria entender por que o corpo reagia daquele jeito sempre que Raline estava por perto.

Na madrugada, acordou com sede e foi até a cozinha. Passando pelo corredor, viu luz saindo por debaixo da porta do banheiro. Ouviu a água do chuveiro. E, sem querer, a silhueta de Raline projetada contra o vidro fosco.

Ficou parada. O coração disparou.

Por que não conseguia parar de olhar?

Por que desejava tanto entrar?

Naquela noite, não dormiu bem. A imagem de Raline nua sob a água a acompanhou como um feitiço.

E Rafaela sentiu que, se não tivesse cuidado, seu coração — e talvez muito mais — estaria prestes a se entregar.


Capítulo 3 – Sozinhas na Casa


Com os avós longe, a casa ganhou outro ritmo. A ausência deles preenchia os cantos com um silêncio diferente. E aquele espaço entre elas, agora sem vozes para preencher, parecia mais íntimo.


Rafaela acordava tarde, Raline fazia café. Passavam as manhãs em silêncio leve, que aos poucos se tornava conversa, brincadeiras, provocações disfarçadas.


— Você tem cara de quem já partiu muitos corações — disse Rafaela um dia, enquanto as duas faziam panquecas na cozinha.


— E você tem cara de quem ainda vai partir alguns — respondeu Raline, sorrindo de canto.


À tarde, decidiram ir à praia. A maré estava calma, e o céu, quase dourado. Raline mergulhava com a leveza de quem conhecia o mar intimamente. Rafaela a observava, o corpo molhado saindo da água, a pele bronzeada refletindo o sol. O desejo começava a se confundir com carinho, admiração, curiosidade.


À noite, jogaram cartas. Depois viram um filme. E então, o que parecia inofensivo virou tensão pura: deitada no sofá, Rafaela encostou a cabeça no colo de Raline. Ela acariciou os cabelos da mais nova com os dedos, num gesto quase automático — mas íntimo demais para ser ignorado.


Os olhos de Rafaela se fecharam. O corpo, porém, estava em chamas.




Capítulo 4 – Olhares e Silêncios


Nos dias seguintes, tudo ficou mais sutil. Mais intenso também.


Rafaela começou a reparar mais nos detalhes: o cheiro do perfume de Raline, as covinhas quando ela sorria, o modo como seus dedos longos se moviam ao falar. E Raline… também observava.


Uma noite, jogavam conversa fora na rede, olhando o céu estrelado. Rafaela comentou:


— Você já se apaixonou por alguém que não podia?


Raline virou o rosto, surpresa. Sorriu devagar.


— Já. Acho que todo mundo passa por isso. O proibido tem gosto de mel e ferrão.


A frase ficou no ar, como fumaça.


— E você? — ela perguntou.


Rafaela hesitou. — Talvez.


Naquela noite, o silêncio não era só silêncio. Era espera. Era vontade represada.



Capítulo 5 – O Banho


Era fim de tarde. O calor castigava. Rafaela estava deitada na cama, pensando em tudo, em nada. Ouviu o som do chuveiro sendo ligado. Raline.


Sem pensar muito, pegou sua toalha e foi até o banheiro. A porta não estava trancada. Ela entrou, achando que não teria problema. Mas assim que entrou, parou.


O box era de vidro fosco. A silhueta de Raline se movia lentamente atrás da neblina.


— Raline? — sussurrou.


A outra abriu a porta do boxe com calma. A água escorria pela pele dourada, os cabelos molhados colados nas costas.


— Vai fugir ou vai entrar?


Rafaela não respondeu. Deixou a toalha cair e entrou.


Foi como se o mundo inteiro desaparecesse.


Beijos quentes, mãos afoitas, corpos colados sob a água escaldante. Raline explorava Rafaela com cuidado e desejo. Rafaela se entregava como se já tivesse esperado por aquele momento a vida inteira. Elas fizeram amor ali mesmo, com intensidade, com doçura, com fome.


Quando a água esfriou, continuaram ali, abraçadas, sentindo a respiração uma da outra.


Sabiam que, a partir dali, não havia volta.




Capítulo 6 – Depois do Vapor


Rafaela acordou antes de Raline. Estava deitada ao seu lado, enroladas no lençol branco como se o mundo tivesse pausado para elas.


Um medo silencioso bateu. Culpa? Não exatamente. Era mais uma inquietação, um “e agora?” que ecoava por dentro.


Raline acordou e a olhou com carinho. Passou os dedos pelos cabelos da mais nova.


— Está arrependida?


— Não… só tentando entender.


— A gente não precisa entender tudo de uma vez — disse Raline, encostando a testa na dela.


Beijaram-se novamente, com suavidade. Pela primeira vez, sem urgência.



Capítulo 7 – O Mundo Lá Fora


Os avós voltaram dois dias depois. O clima da casa mudou. Era preciso fingir que tudo estava como antes. Rafaela e Raline sorriam, conversavam, mas mantinham distância.


À noite, trocavam mensagens no quarto, mesmo estando separadas por poucas paredes. O desejo não havia sumido — apenas se escondia.


Uma tarde, na cozinha, Raline esbarrou propositalmente em Rafaela. Um toque rápido, um sorriso disfarçado.


O segredo entre elas ardia como brasa sob a pele.




Capítulo 8 – Confissões ao Luar


Num fim de semana, os avós foram visitar amigos. Rafaela e Raline ficaram sozinhas de novo.


Foram à praia à noite, sentaram-se na areia. O céu estrelado acima, o mar como testemunha.


— Eu pensei que era só curiosidade — disse Rafaela, olhando para o horizonte. — Mas não é.


Raline segurou sua mão. — Eu também não sei o que isso é… mas não quero perder.


Rafaela virou-se para ela. — Você tem medo?


— Muito. Mas o medo não é maior do que o que eu sinto quando te olho.


Beijaram-se ali, na areia fria, com o coração quente.



Capítulo 9 – Escolhas


Com o fim das férias se aproximando, Rafaela precisava decidir: voltar para a cidade e seguir a vida como se nada tivesse acontecido... ou ficar.


Conversaram por horas, dias. Raline tinha medo de assumir algo tão diferente, tão inesperado. Mas o amor entre elas já era mais forte do que qualquer receio.


Rafaela fez sua mala. Sentou na cama, chorando. Raline entrou no quarto.


— Se você for… vai me deixar em pedaços.


— E se eu ficar… vai me juntar?


— Vou. Todos os dias.


Rafaela deixou a mala de lado.



Capítulo 10 – O Amor Existe Aqui


Meses se passaram.


Rafaela decidiu morar com os avós, matriculou-se em um curso próximo. Raline continuava trabalhando de casa, escrevendo, lendo, cuidando do jardim.


Elas viviam o amor em silêncio, com olhares cúmplices, beijos escondidos sob as árvores, carícias na varanda ao pôr do sol. Não precisavam dizer nada aos outros. O que sentiam bastava.


Num fim de tarde, de mãos dadas diante do mar, Rafaela sussurrou:


— Eu achava que tinha vindo buscar paz… mas encontrei amor.


Raline sorriu.


— O amor também é paz. Quando é de verdade.


E ali, entre areias e segredos, elas se 

encontraram por inteiro.






terça-feira, 13 de maio de 2025

Entre Dois Corações

 



 Capítulo 1: Raízes de Desejo

Fernando era um homem gentil, daqueles que sorriem fácil e sabem ouvir. Morava em outro estado, longe da família, onde construía sua vida aos poucos. Trabalhando, estudando, vivendo cada dia como dava. O que ele não esperava era encontrar Renata, uma mulher linda, intensa, com um brilho no olhar que hipnotizava.

Conheceram-se por acaso, em um evento de amigos em comum. A conexão foi instantânea. Em pouco tempo, os dois estavam inseparáveis. Saíam para jantar, riam juntos, faziam planos. Fernando se apaixonou. E depois de alguns meses, sentiu que era hora de dar um passo a mais.

— Quero que conheça minha família. Eles moram no interior, são simples, mas vão te adorar — disse, enquanto acariciava a mão dela.

Renata sorriu, aceitando o convite com entusiasmo.


A casa da família de Fernando era grande e rodeada por plantações. O céu parecia mais azul ali, o ar mais leve. Os pais o receberam com alegria, mas foi a irmã dele, Rebeca, quem ficou mais empolgada ao vê-lo.

— Até que enfim apareceu, sumido! — brincou ela, abraçando o irmão.

Quando os olhos de Rebeca encontraram os de Renata, algo aconteceu. Um choque interno, um silêncio estranho. Ela era... linda. Tão linda que chegou a doer.

— Você deve ser a Renata... — disse Rebeca, tentando disfarçar o impacto.

— Sou sim. E você é ainda mais bonita do que ele falou — respondeu Renata, com um sorriso leve.

Nos dias seguintes, Fernando se ocupou ajudando o pai, enquanto Rebeca se ofereceu para mostrar Renata os arredores. Saíam juntas todos os dias. Passeavam pelas plantações, conversavam por horas, colhiam frutas no pé. As mãos se encostavam às vezes — por acaso, ou não. E os olhares demoravam mais do que o necessário.

Até que, em uma tarde quente, Rebeca levou Renata para conhecer o rio escondido atrás das colinas.

— Aqui é o meu lugar favorito — disse, tirando os sapatos.

— É lindo mesmo... — Renata respondeu, observando a água cristalina.

As duas entraram no rio, ainda de lingerie, brincando como adolescentes. Molhavam-se, jogavam água uma na outra, riam alto. Mas o riso foi diminuindo, dando lugar a algo mais denso, mais carregado.

Rebeca encarou Renata por um instante, seus olhos mergulhados de desejo contido.

— Você é... maravilhosa — sussurrou, sem perceber que estava dizendo em voz alta.

Renata ficou em silêncio, apenas devolvendo o olhar, com o coração acelerado.

Mas antes que qualquer coisa acontecesse, o som do carro de Fernando cortou o momento. Ele havia voltado da cidade. As duas saíram da água às pressas, disfarçando.

No caminho de volta para casa, os olhares entre elas se cruzavam, tímidos, carregados de um desejo que nenhuma das duas ousava confessar. Era errado. Era confuso. Era proibido.

Mas era real.

A partir dali, passaram a fazer tudo juntas. Cozinhavam, colhiam ervas, preparavam doces, passeavam. Rebeca parecia ter esquecido o mundo lá fora, só querendo estar ao lado de Renata. E Renata... se deixava levar.

Mas nenhuma das duas tinha coragem de atravessar a linha. Até que um dia, o pai de Fernando o chamou para uma pescaria de três dias.

— Eu não sei... — ele hesitou. — Não quero deixar vocês sozinhas.

Renata sorriu, serena.

— Vai, amor. A gente vai ficar bem. Rebeca vai cuidar de mim.

O olhar entre as duas foi rápido. Mas dizia tudo.


Naquela noite, com Fernando longe, Rebeca convidou Renata para um passeio pela cidade. Visitaram uma feirinha, compraram flores, jantaram em um restaurante pequeno, com vinho tinto e luz baixa.

— Não sei o que está acontecendo comigo — disse Rebeca, depois da segunda taça. — Mas quando estou perto de você... sinto algo estranho.

Renata abaixou os olhos, mordendo o lábio.

— Eu também. E... aquele dia no rio... eu vi seu corpo. Achei lindo. E isso me assustou.

As duas voltaram para casa em silêncio, os corações pulsando forte.

No quarto de Rebeca, sentaram-se na cama com uma garrafa de vinho. A luz era baixa. Os rostos próximos.

E então, o ar ficou denso. O silêncio... perigoso.

Os olhos se encontraram. Os dedos se tocaram.

E nada mais parecia importar.

Capítulo 2: A Noite Queimava


O quarto de Rebeca estava silencioso, iluminado apenas pela luz amarelada do abajur. As taças de vinho estavam quase vazias, mas o calor entre as duas era mais forte que qualquer bebida.


Renata sentia o coração martelar dentro do peito. Rebeca estava linda, com os cabelos soltos caindo pelos ombros, o olhar intenso, os lábios úmidos. Estavam sentadas lado a lado na cama, os joelhos quase se tocando.


— Desde o dia do rio... eu penso nisso — murmurou Rebeca, quase sem coragem.


— Eu também. Penso em você... mais do que deveria — respondeu Renata, olhando-a nos olhos.


Rebeca se aproximou devagar, os olhos fixos nos de Renata. A mão dela tocou a coxa da outra, de leve, como se pedisse permissão.


— Isso é loucura... — sussurrou Renata, sentindo o corpo inteiro arrepiar.


— É. Mas eu não quero mais fingir que não sinto.


O beijo veio como um alívio e uma explosão. Macio no começo, depois profundo, urgente. As mãos se procuraram, os corpos se colaram. O vinho adormecia o mundo ao redor, mas os sentidos delas estavam mais vivos do que nunca.


As roupas caíram uma a uma, como se não houvesse pressa. Rebeca explorava cada parte de Renata como se estivesse tocando algo sagrado, desejado por tanto tempo. A pele dela era quente, cheirosa, e os suspiros que escapavam dos lábios deixavam Rebeca completamente entregue.


Renata a puxou para cima de si, os seios se tocando, o quadril se encaixando com perfeição. Os olhos não se desgrudavam. Era como se faziam amor não só com os corpos, mas com tudo o que sentiam, com toda a tensão acumulada nos últimos dias.


Gemidos baixos encheram o quarto, abafados entre beijos e mãos trêmulas. Rebeca descia os lábios pelo pescoço de Renata, depois entre os seios, e mais abaixo, até fazê-la estremecer de prazer. Renata a puxava pelos cabelos, arfando, gemendo o nome dela com os olhos fechados.


Foi intenso, quente, verdadeiro.


E quando terminaram, ainda nuas, cobertas apenas pelo lençol e pelo cansaço bom do desejo saciado, ficaram em silêncio por um tempo, respirando juntas.


— Isso muda tudo, né? — disse Rebeca, olhando para o teto.


— Já mudou — respondeu Renata, virando-se para ela, acariciando seu rosto. — Mas eu não me arrependo.


— Nem eu.


E então, adormeceram assim: entrelaçadas, como se o mundo lá fora não existisse, como se aquele momento fosse só delas.


Mas no fundo... ambas sabiam que, em breve, teriam que encarar a realidade. E Fernando.


Capítulo 3: Silêncio de Manhã

O sol invadia o quarto pelas frestas da janela, espalhando uma luz dourada sobre os lençóis amassados. Renata abriu os olhos devagar, sentindo o calor de um corpo ao lado. Por um segundo, achou que tinha sonhado — mas não. Rebeca dormia ali, nua, os cabelos bagunçados, os lábios entreabertos.

Renata a observou em silêncio, o coração apertado. A noite anterior tinha sido intensa, cheia de sentimentos e prazer. Mas agora… a realidade começava a se aproximar como uma tempestade silenciosa.

Levantou-se devagar, vestiu a calcinha e a camisa de Rebeca e foi até a cozinha. Precisava de ar. De tempo. De qualquer coisa que a ajudasse a entender o que estava sentindo.

Rebeca acordou pouco depois, e quando apareceu na cozinha, os olhos encontraram os de Renata. Havia um peso no ar, mas também uma ternura que nenhuma das duas queria negar.

— Bom dia… — disse Rebeca, com um sorrisinho tímido.

Renata abaixou os olhos, sorrindo de leve.

— Bom dia.

— Você tá bem?

Renata hesitou. Depois assentiu.

— Eu tô. Só... pensando.

— Eu sei. Eu também. — Rebeca se aproximou e segurou a mão dela. — Mas eu não me arrependo. E você?

Renata apertou os lábios, pensativa.

— Também não. Mas... ele é seu irmão.

O silêncio caiu entre elas. Denso. Incômodo.

— Eu nunca imaginei isso, Renata. Nunca me vi com uma mulher. Até você aparecer.

— E eu nunca me senti assim por alguém da família de quem eu estava com… — ela suspirou. — Mas com você... é diferente. Eu me sinto viva. Desejada. Vista.

Rebeca se aproximou, colando seus corpos de novo.

— Eu te vejo. E eu te quero.

O beijo veio outra vez, quente, urgente, cheio de fome. A camisa de Rebeca logo caiu no chão, as mãos de Renata explorando a pele já familiar. Beijaram-se ali mesmo, encostadas no balcão, como se o tempo fosse inimigo e cada segundo valesse ouro.

Rebeca se ajoelhou, beijando o ventre de Renata, acariciando suas coxas. E ali, no chão da cozinha, Renata gemeu seu nome, segurando nos cabelos dela, deixando o prazer tomar conta de tudo.

Quando se deitaram no tapete, ofegantes, entre beijos e carícias, o som de uma mensagem no celular interrompeu o momento.

Fernando.

"Oi, amor. Tudo bem por aí? Amanhã à tarde estou de volta. Com saudade."

As duas se entre olharam.

O tempo que ainda tinham era curto.

Mas a chama entre elas... estava longe de se apagar.


Capítulo 4: Entre Mentiras e Desejo


O carro de Fernando parou na frente da casa ao entardecer. Renata e Rebeca estavam sentadas na varanda, com expressões controladas e corações inquietos.


— Meu amor! — ele disse, sorrindo ao sair do carro. — Que saudade!


Renata se levantou, tentando manter a naturalidade. Abraçou-o, beijando-o nos lábios com cuidado. Um beijo sem paixão. Sem verdade.


Rebeca observou em silêncio, o peito apertado.


Durante o jantar, Fernando contava histórias da pescaria enquanto as duas trocavam olhares escondidos, como se a pele ainda estivesse marcada pelo que tinham vivido.


— Vocês se deram bem, né? — ele perguntou, empolgado. — Até parece que se conhecem há anos.


— A gente… se entendeu — respondeu Rebeca, com um meio sorriso.


— Ela é incrível — completou Renata, o olhar indo direto para a irmã dele.


Naquela noite, Renata dormiu com Fernando. Mas não havia mais entrega. Seus pensamentos estavam em outro lugar. Em outro corpo. Em outro toque. Ela se virou várias vezes na cama, até que finalmente levantou e saiu do quarto devagar.


Rebeca estava acordada, sentada na beira da cama.


— Eu sabia que você viria — disse, num sussurro.


Renata se aproximou e ajoelhou diante dela.


— Eu não sei como parar. Não sei como fugir disso.


Rebeca a puxou para um beijo, calando qualquer dúvida. Os corpos se encontraram outra vez, com urgência, com fome, com saudade do toque. Fizeram amor em silêncio, contido, abafando os gemidos em beijos profundos.


O prazer foi intenso, mas o depois foi ainda mais pesado.


— Não dá pra continuar assim, Renata. A gente vai acabar se machucando.


— Eu sei... — disse ela, com lágrimas nos olhos. — Mas e se… e se a gente se escolher?


O silêncio da madrugada pareceu dar a resposta que elas não conseguiram encontrar.


E a dúvida, agora, era: elas teriam coragem de enfrentar tudo?



Capítulo 5: O Flagra

O dia seguinte chegou lento e tenso.

Renata evitava os olhos de Rebeca. Rebeca fingia estar ocupada o tempo todo. Fernando, sem perceber nada, fazia planos sobre voltar pra cidade, sobre o futuro… sobre os três.

Mas entre Renata e Rebeca, tudo era silêncio e pulsação contida.

Elas mal conseguiam ficar no mesmo cômodo sem que o corpo gritasse lembranças da noite anterior. Os beijos. Os toques. Os sussurros. Tudo ainda vivo sob a pele. Mas agora coberto por uma camada de medo. E culpa.

À noite, deitada ao lado de Fernando, Renata tentava dormir. Ele acariciava seu cabelo, carinhoso… mas era como se tocasse outra pessoa. Seu corpo não reagia. Seu coração estava longe.

Levantou-se com cuidado, dizendo que ia beber água. Na cozinha, acendeu apenas a luz do fogão.

E ali, como se o destino conspirasse, Rebeca estava parada, com o copo na mão, de camisola, os olhos brilhando na penumbra.

— Você também não consegue dormir? — murmurou Rebeca.

— Não… — Renata suspirou. — Eu fico pensando no que a gente fez. No que a gente é. E em como eu tô me sentindo vazia sem você.

Rebeca se aproximou, devagar, como quem caminha sobre vidro.

— Eu tentei te evitar hoje. Mas cada vez que te vi… eu queria te tocar. Te abraçar. Te beijar.

— Eu também. Mas… e Fernando?

O nome dele pesou no ar. As duas se encararam em silêncio.

— Você é a mulher do meu irmão, Renata. Mas eu… eu me apaixonei por você. E isso tá me destruindo por dentro.

Renata segurou o rosto dela entre as mãos.

— Eu também te amo, Rebeca.

E ali, no meio do silêncio da madrugada, elas se beijaram. Sem culpa. Sem medo.

O desejo explodiu. A camisola caiu. Beijos se espalharam por pescoços, seios, ventre. As mãos se exploravam com urgência e amor. No chão da cozinha, entre sussurros abafados e corpos entrelaçados, elas fizeram amor.

Mas um som cortou tudo como uma faca.

— O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?!

Fernando estava parado na porta. Olhos arregalados. Boca aberta. O peito arfando de raiva e incredulidade.

Renata se cobriu às pressas, tentando encontrar palavras. Rebeca se levantou, o rosto pálido.

— Fernando… — começou ela.

— Vocês duas?! Vocês estão…?! — ele gritou, a voz embargada.

Renata se levantou, ainda nua, mas firme.

— Me escuta. Por favor.

— Não tem o que escutar, Renata! Era comigo que você tava! Comigo! E você… — ele apontou para a irmã, com os olhos cheios de lágrimas — você é minha irmã!

Rebeca chorava agora. Mas não recuou.

— Eu nunca quis te ferir, Fernando. Mas eu amo ela.

Fernando ficou imóvel. Depois, virou-se e saiu batendo a porta com tanta força que a parede tremeu.

O silêncio voltou, sufocante.

Renata abraçou Rebeca.

— Agora ele sabe. Agora o mundo desabou. Mas eu não me arrependo.

— Eu também não.

Elas ficaram ali, juntas, no chão, nuas e frágeis, mas finalmente livres.

Mesmo que o amor delas viesse com cicatrizes.

Fim.




sexta-feira, 9 de maio de 2025

A Linha entre o desejo e a rotina

 



Capítulo 1 – Um Encontro Inesperado


Renata era uma mulher de rotina disciplinada. Todos os dias, antes mesmo do sol nascer, ela deixava o marido e as duas filhas ainda dormindo e seguia para a academia. Fazia seus 40 minutos de exercícios, voltava para casa e, sem pausa, preparava o café da manhã, o almoço das crianças, as lancheiras… Depois, as levava à escola e seguia para o ponto de ônibus, enfrentando uma longa viagem até seu trabalho. Saía às 7h e só retornava depois das 18h, exausta, mas determinada. Sua vida era entrega.


Naquela manhã, enquanto esperava o ônibus, Renata viu uma mulher diferente entre os rostos comuns da parada. Ela tinha cabelos longos, pretos como a noite, um corpo que chamava atenção pela harmonia e força, e um olhar firme. Ao notar que o ônibus estava atrasado, Renata se aproximou e perguntou:


— O ônibus da linha 102 já passou?


A mulher virou-se com um sorriso gentil:


— Ainda não. Estou aqui faz meia hora esperando.


E assim começaram a conversar. A mulher se chamava Helena. Trabalhava na cidade onde Renata morava e, como ela, levava uma rotina cheia. Helena contou que estudava para concursos, gostava de correr e pedalar, e que morava sozinha. Renata, por sua vez, falou da família, das filhas, da vida corrida e do cansaço constante.


A conversa fluiu com tanta naturalidade que parecia que se conheciam há anos. Quando o ônibus chegou, as duas sentaram juntas e continuaram trocando confidências, risadas e olhares atentos. Era o começo de algo inesperado.


No dia seguinte, elas se reencontraram. Renata, ao vê-la entrando no ônibus, sorriu e chamou Helena para sentar ao seu lado. Falaram sobre treino, corpo, vida. Trocaram elogios com um toque de brincadeira — e algo mais. Era sutil, mas estava ali.


A amizade floresceu rapidamente. Trocaram WhatsApp, começaram a se seguir nas redes sociais, e com o tempo, as conversas ficaram mais íntimas, mais frequentes. Marcaram uma ida à praia, um programa só entre “amigas”.


Mas naquele dia de sol, cerveja e mar, algo mudou. O olhar de Renata se demorava em Helena, especialmente quando ela vestia o biquíni. O corpo reagia de formas que ela não conseguia explicar. E quando Helena a elogiou, tocando no ponto exato entre o físico e o emocional, algo dentro de Renata despertou — um desejo silencioso, mas intenso.


À noite, já em casa, Renata sonhou com Helena. E quando acordou, percebeu que não era só um sonho.


Era desejo.


Era o início de um conflito — entre o que vivia e o que começava a querer viver.




Capítulo 2 – Desejo em Silêncio


O ônibus seguia seu caminho lento pelas ruas escuras. Algumas luzes da cidade ainda brilhavam nas calçadas, mas lá dentro, o mundo parecia outro. A luz interna estava apagada, havia poucos passageiros espalhados pelas cadeiras da frente — e, no fundo, apenas elas duas.


Renata sentia o coração bater acelerado, o som quase ecoando em seus ouvidos. Helena estava ao seu lado, tão perto que o perfume leve que exalava misturava-se ao ar morno do veículo.


— Posso? — sussurrou Helena, os olhos fixos nos dela, enquanto a mão pousava de leve na coxa de Renata.


Renata apenas assentiu. Estava ofegante, tomada por um desejo que queimava há dias. Sentia-se viva, pulsante, assustada e entregue ao mesmo tempo. Helena acariciou sua coxa devagar, subindo com os dedos como quem explora um segredo antigo. A respiração de Renata falhou quando sentiu os dedos contornando sua pele por baixo da saia.


A calcinha já estava úmida. Helena percebeu e sorriu no escuro.


— Você tá tremendo…


— É você… — Renata respondeu, quase sem voz.


Com cuidado, Helena afastou o tecido e tocou onde Renata mais queria. Os olhos de Renata se fecharam, e a cabeça tombou discretamente para trás. Os dedos de Helena se moviam com uma precisão quase mágica, suaves e intensos ao mesmo tempo. Cada toque fazia o corpo de Renata responder com tremores leves, pequenos gemidos abafados pelo som do motor do ônibus.


— Quietinha… — Helena murmurou, enquanto seu dedo entrava lentamente, provocando um arquejo contido de prazer.


Renata agarrou a mão de Helena, não para impedir, mas para guiar. Seus quadris se mexiam devagar, entregues àquele momento impossível e real. Era como se o mundo todo tivesse sumido, e restasse apenas o calor entre elas.


O clímax veio como uma onda quente, silenciosa, mas devastadora. O corpo de Renata estremeceu inteiro, e ela mordeu o lábio para não gemer alto. Helena a segurou com delicadeza, mantendo os olhos nos dela enquanto seu corpo relaxava.


Por alguns segundos, ficaram em silêncio. O mundo voltou aos poucos. O barulho do ônibus. As luzes da cidade. Os poucos passageiros adormecidos.


Renata sorriu, ainda ofegante.


— Isso… não deveria ter acontecido aqui…


Helena tocou seu rosto com carinho.


— Mas aconteceu. E eu não me arrependo.


Renata encostou a cabeça no ombro de Helena, o corpo ainda em chamas, o coração batendo descompassado — mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se viva de verdade.



Capítulo 3 – No Escuro do Ônibus


O entardecer chegou abafado, o céu nublado refletindo o turbilhão que Renata sentia por dentro. Na parada, ela avistou Helena e sentiu o coração acelerar. O abraço das duas foi mais demorado, mais apertado, como se dissessem com os corpos o que ainda hesitavam em dizer com palavras.


O ônibus chegou vazio, como se tivesse sido reservado para aquele momento. Sentaram-se no fundo, lado a lado, longe dos olhares dos poucos passageiros.


As conversas começaram como sempre — sobre o dia, o trabalho, as crianças. Mas havia algo diferente no ar. Helena passou os dedos de leve sobre a coxa de Renata enquanto ria de uma piada boba. Renata estremeceu. Aquilo não era mais só brincadeira.


O motorista, distraído e cansado, apagou as luzes internas do ônibus. Foi como um sinal.


Helena sussurrou:


— Posso te tocar?


Renata mordeu o lábio e assentiu com um olhar cheio de desejo e receio. Abriu um pouco as pernas. A saia subiu, revelando a pele quente e arrepiada. Helena deslizou os dedos pela parte interna da coxa, devagar, como quem prova um segredo. A respiração de Renata ficou pesada.


— Sua pele tá queimando… — murmurou Helena, com um sorriso malicioso.


Renata inclinou o corpo para mais perto e sussurrou no ouvido dela:


— Tira tudo de mim... aqui... agora...


Helena puxou a calcinha de Renata devagar. Estava encharcada. Ela a segurou nas mãos, cheirou discretamente, os olhos brilhando de desejo, e disse:


— Você me quer assim mesmo... sem medo?


Renata gemeu baixo, afirmando com a cabeça, e abriu as pernas ainda mais.


Helena deslizou os dedos entre os lábios íntimos dela, sentindo a textura quente e molhada. Começou a acariciá-la com movimentos circulares, cada vez mais profundos. Renata agarrou o banco, a cabeça jogada pra trás, tentando conter os gemidos. O ônibus chacoalhava levemente nas curvas, aumentando o ritmo do prazer.


— Eu quero te ouvir... — sussurrou Helena, lambendo o lóbulo da orelha de Renata.


— Não posso... tem gente... — respondeu Renata, arfando.


— Então geme no meu pescoço… — disse, puxando Renata para um beijo selvagem e molhado.


Os corpos estavam quentes, colados. Helena penetrou Renata com dois dedos, devagar no começo, depois com intensidade. O gemido abafado de Renata se perdeu nos beijos desesperados, no cheiro da excitação, na adrenalina de fazer amor ali, escondidas.


Renata tremeu inteira quando o orgasmo veio como uma onda. O corpo se curvou, as pernas fecharam sobre os dedos de Helena, os olhos cerrados. Ela mordeu o ombro de Helena, ofegante.


— Nunca senti isso antes... — sussurrou, com lágrimas nos olhos e um sorriso nos lábios.


Helena a abraçou, acariciando seus cabelos.


— Porque agora... você se permitiu.


O ônibus parou. Elas se recompuseram como se nada tivesse acontecido, mas os olhares denunciavam: havia algo novo entre e

las. Algo intenso. Algo impossível de ignorar.


Capítulo 4 – No Silêncio do Quarto


Depois daquela troca de carícias no fundo do ônibus, Renata passou o resto da viagem em silêncio, tentando controlar a respiração e o coração acelerado. Quando desceu, seus passos estavam trêmulos e os pensamentos confusos — mas havia algo que ela não podia negar: queria mais. Queria Helena de novo. Inteira. Sem pressa. Sem medo.


No fim do dia, Helena mandou uma mensagem direta:


"Hoje foi só um aperitivo... quer vir aqui em casa amanhã depois do trabalho?"


Renata hesitou por alguns minutos. Pensou na família, nas filhas, no marido. Mas seus dedos escreveram antes que sua consciência interferisse:


"Quero."


Na tarde seguinte, ao sair do trabalho, ela não foi direto para casa. Pegou outro ônibus e desceu perto da casa de Helena. Suas mãos suavam. O coração batia alto. Ao chegar, Helena a esperava na porta, com um vestido leve, o cabelo preso de forma despretensiosa e um sorriso que parecia fogo disfarçado.


— Entra — disse apenas.


Renata entrou. O apartamento era pequeno, aconchegante. Luz baixa. Um som suave no fundo. Helena ofereceu vinho, mas Renata recusou. Não queria culpar o álcool por nada. Queria estar lúcida. Sentir tudo.


Sentaram-se no sofá, uma ao lado da outra. O silêncio entre elas era denso, cheio de tensão. Até que Helena falou, olhando nos olhos de Renata:


— Você pensou em mim ontem?


Renata apenas assentiu. Seus olhos diziam tudo. Então, sem mais palavras, Helena se aproximou e beijou-a com calma no início, como quem saboreia a espera. Renata retribuiu, mas logo suas mãos tomaram vida própria, explorando a pele de Helena com urgência.


Foram se despindo ali mesmo, no sofá. A roupa caiu como folhas de outono — uma após a outra, até que só restasse pele, calor e respiração.


Helena levou Renata para o quarto, deitou-a na cama e ajoelhou-se entre suas pernas. Olhou por um instante, como se admirasse uma obra de arte, e então começou a beijar devagar sua barriga, suas coxas, provocando, até alcançar o centro do desejo de Renata.


Renata gemeu, mordeu os lábios, segurou os lençóis. Nunca havia sentido aquilo antes. O toque de Helena era diferente de tudo — preciso, intenso, dedicado.


Helena explorou cada parte com a boca e com os dedos, com a paciência de quem sabia exatamente o que fazer. Renata se contorceu, pediu mais, e foi atendida. Vieram os gemidos abafados, os olhos cerrados, os arrepios que percorriam a espinha. O prazer tomou conta de tudo, inundando cada centímetro do corpo de Renata, que gozou mais de uma vez, sem vergonha, sem medo, sem culpa.


Depois, foi a vez de Helena se entregar, e Renata não hesitou. Quis dar tudo o que sentia em forma de toque, língua e desejo. Descobriu o gosto da pele de outra mulher, e aquilo a deixou ainda mais acesa.


No final, as duas ficaram deitadas, nuas, ofegantes, entrelaçadas como se fossem uma só. E ali, no silêncio do quarto, Renata percebeu: não era só tesão. Era mais. Era conexão. Era paixão em construção.


E ela não queria fugir disso.


Capítulo 5 – O Reflexo do Desejo


Renata acordou na manhã seguinte envolta em lençóis amassados, com o cheiro de Helena ainda impregnado na pele. A luz suave da manhã entrava pela janela, iluminando seu rosto, mas não conseguia afastar o turbilhão de emoções que a invadiam. O prazer que ela experimentara ontem à noite estava ecoando dentro dela, mas, ao mesmo tempo, um peso de culpa e confusão também a dominava. O que aquilo significava? O que ela havia feito?


Olhou para o celular. Mensagem de Helena.


"Boa manhã, linda. Dormiu bem?"


Renata sorriu, mas o sorriso foi breve. Ela não sabia o que dizer. Havia algo de tão intenso naquelas palavras que a deixava sem ação. Apenas olhou para o teto, esperando que a resposta viesse com o tempo. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas sentia que não poderia mais ignorar o que estava crescendo dentro de si.


No trabalho, as horas passaram lentamente. Renata mal conseguia se concentrar. Imagens de Helena, de seus beijos, toques e carícias, invadiam sua mente a todo momento. O que ela queria agora? A certeza de que Helena sentia o mesmo? Ou a promessa de que ela poderia, finalmente, viver algo para si mesma, sem medo da sociedade, sem medo de seus próprios sentimentos?


Helena, por outro lado, também estava em um dilema. As mensagens de Renata estavam repletas de desejo, mas, em seus olhos, ela sabia que havia algo mais ali. Algo que ela não podia negar. Ela não estava apenas se entregando a uma paixão avassaladora. Estava se apaixonando de verdade. E isso a aterrorizava.


Ela pensou em como Renata parecia dividida, com a vida entre sua família e o que estava acontecendo com ela. Ela sabia que Renata não era uma mulher fácil, mas a atração entre elas era inegável. Tudo entre elas parecia verdadeiro. Mas o que isso significava para o futuro?


No fim do expediente, Renata saiu mais cedo do trabalho. Ela não queria mais ficar em casa. Sentia-se sufocada, como se estivesse dentro de uma prisão de sua própria criação. Queria ver Helena. Queria sentir mais uma vez os braços dela ao redor de seu corpo, sentir os lábios quentes em sua pele. Queria viver aquele desejo sem culpa, sem limitações.


Chegando ao ponto de encontro, viu Helena já à sua espera. O sorriso delas se cruzou antes que qualquer palavra fosse dita. Renata, sem pensar duas vezes, caminhou até ela e a beijou, não com urgência, mas com uma paixão mais profunda, algo que transcendeu a necessidade física.


— Vamos para casa? — Helena perguntou, em um sussurro entre os beijos.


Renata assentiu.


Chegando ao apartamento de Helena, a intensidade entre elas se acentuou ainda mais. As mãos de Renata estavam tremendo, e seu coração disparava, mas não havia mais volta. Helena a guiou até o quarto, onde a paixão se manifestou de forma ainda mais intensa.


Desta vez, não havia palavras. Só o som de respirações pesadas, corpos se tocando e se entregando ao que não podiam mais negar.


Helena a levou para a cama e a deitou. Seus dedos exploraram cada curva, cada linha de Renata, como se quisesse memorizar cada pedaço daquele corpo. Renata se entregou, sem medo, sem hesitar. Era como se fosse a primeira vez que ela realmente vivesse para si mesma, sem as amarras da culpa ou da vergonha.


Quando chegaram ao ápice, foi uma explosão de emoções. Renata não conseguia mais distinguir onde começava o prazer e onde terminava a dor de algo tão inesperado e real. Quando o silêncio se fez, as duas ficaram deitadas, entrelaçadas, com os corações batendo como se um fosse o reflexo do outro.


Renata se sentiu livre. Não era apenas o prazer físico que a preenchia agora. Era a descoberta de uma parte de si mesma que ela nunca imaginara existir. Algo que ela não poderia mais ignorar.


Helena, por sua vez, estava radiante. Sentia que havia tocado algo mais profundo em Renata. Algo que ela não imaginava que fosse possível em uma mulher que parecia tão fechada e reservada. Ela queria mais. Queria construir algo real, algo que fosse só delas.


Mas o que viria a seguir? O que as esperava na manhã seguinte? Renata poderia realmente deixar a rotina de sua vida para trás, ou ela teria que escolher entre dois mundos? Entre a mulher que ela amava e a família que ela jurara proteger?


6– Entre o Desejo e o Compromisso


Renata sabia que sua vida havia mudado. Nos últimos dias, ela se viu completamente imersa em uma mistura de sentimentos contraditórios. De um lado, havia a rotina familiar, o casamento com seu marido, suas duas filhas e as responsabilidades diárias. Do outro, a chama crescente de algo novo e intenso que havia despertado em seu coração e corpo. Helena era tudo o que Renata nunca imaginou querer, e ainda assim, ela não conseguia ignorar o desejo que queimava dentro de si.


Foi numa noite silenciosa, depois de mais uma conversa vazia com o marido, que Renata decidiu que precisava de uma mudança. O olhar de Helena, o toque sutil e inesperado, o desejo incontrolável que sentiu pela primeira vez em anos... tudo isso a levou a um ponto sem retorno.


Ela mandou uma mensagem para Helena, sentindo o coração acelerar enquanto escrevia: "Quero te ver, Helena. Hoje."


Helena respondeu quase imediatamente: "Onde e quando?"


Renata sabia que não podia mais continuar se escondendo. Ela precisava ser honesta consigo mesma, com seu casamento e com o que estava sentindo por Helena. Então, ela pediu para se encontrar em um lugar mais afastado, longe dos olhos de sua família, para poder respirar livremente. "Eu preciso de você agora", escreveu.


Helena a esperava em um parque tranquilo. Quando Renata chegou, a viu de longe, com aquele sorriso calmo e convidativo, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo. As duas se aproximaram, e logo a tensão entre elas foi palpável.


"Renata... eu percebo o que você está vivendo. Não precisa esconder isso de mim", Helena disse com voz suave, enquanto acariciava o rosto de Renata. Aquelas palavras, aliadas ao toque gentil, foram como um convite para Renata se entregar de vez àquele momento.


Renata hesitou por um segundo, mas logo a voz de seu próprio desejo a empurrou para a frente. Sem mais palavras, ela a puxou para um beijo. Um beijo profundo, quente, que selava o fim de uma era e o começo de uma nova história.


Helena a guiou até um banco escondido sob as árvores. Ali, na penumbra, sem a pressão do mundo ao redor, Renata se entregou ao prazer como nunca. O toque de Helena a fez sentir-se viva, desejada e, pela primeira vez em muito tempo, completamente ela mesma.


A cada carícia, Renata deixava de lado as inseguranças, o medo do julgamento e a culpa. Era como se, ao estar nos braços de Helena, ela encontrasse a versão mais verdadeira de si mesma.


Quando o dia amanheceu, elas estavam sentadas no banco, de mãos dadas, olhando o horizonte, com a paz de quem sabia que algo estava prestes a mudar.


"Eu não posso mais voltar atrás", Renata confessou.


Helena a olhou nos olhos, com uma expressão que misturava compreensão e carinho. "Eu não quero que você volte atrás. Eu quero você, Renata. Do jeito que você é."


Renata sorriu, sentindo a pressão de sua vida desmoronar, mas ao mesmo tempo, algo novo começava a nascer.


Na manhã seguinte, Renata enfrentou o marido com sinceridade. Ela sabia que era hora de encarar a verdade, não só sobre sua vida, mas sobre o que ela realmente desejava para o futuro.


A decisão de Renata foi difícil, mas necessária. Ela optou por seguir o caminho do amor verdadeiro, aquele que não se define por expectativas alheias, mas pelo que arde no coração.


E assim, ela e Helena continuaram seu caminho, com a certeza de que o amor, quando verdadeiro, não se mede em tempo ou limitações, mas na entrega mútua e no respeito aos próprios sentimentos.


A vida de Renata nunca mais foi a mesma, mas ela aprendeu que a felicidade não está em se conformar com o esperado, mas em se abrir para o inesperado. Helena não era uma simples paixão passageira, ela era a escolha de Renata. E, finalmente, ela se permitiu viver a vida que sempre quis.



Se quiserem continuação deixe nos comentários que faremos outro vídeo contando o resto da história 



domingo, 4 de maio de 2025

Colisão do destino

 



Título: Colisão do Destino


Capítulo 1 – Impacto


Lucas acelerava pelas ruas de São Paulo com os olhos no relógio. Era engenheiro de uma grande construtora e tinha uma reunião importante em menos de vinte minutos. O trânsito, como sempre, parecia uma entidade maligna disposta a arruinar seus planos. Quando finalmente viu o semáforo abrir, avançou sem hesitar.


Do outro lado, Gabriel manobrava seu carro com cuidado. Era motorista de aplicativo há dois anos, e estava em uma corrida curta, mas importante — a passageira era uma idosa simpática que precisava chegar ao hospital para uma consulta. Ele já ia completar a travessia quando, de repente, um carro prata surgiu em velocidade e... BUM!


O impacto não foi forte o suficiente para causar ferimentos, mas o susto foi considerável. Os carros ficaram amassados, e ambos os motoristas desceram imediatamente.


— Você não viu o sinal? — Lucas exclamou, ainda ofegante, o terno impecável já amassado pelo estresse.


— O sinal estava verde pra mim, cara! — rebateu Gabriel, com o boné virado para trás e os olhos atentos, tentando manter a calma.


A discussão aumentava a cada segundo, as vozes se sobrepondo, até que, impaciente, Lucas arrancou o celular da mão de Gabriel para tirar fotos dos documentos e resolver logo com o seguro.


— Ei! Isso é abuso, você tá louco? — disse Gabriel, puxando o telefone de volta.


A passageira, já retirada do carro por outro motorista solidário, apenas murmurou: “Homens…”


Capítulo 2 – Um Novo Tom


Dias depois, os ânimos haviam esfriado. Lucas, envergonhado pela sua atitude impulsiva, ligou para Gabriel.


— Escuta, eu não fui justo com você. Que tal a gente se encontrar e conversar melhor? Resolver isso como adultos.


Gabriel hesitou. Mas algo na voz de Lucas — talvez o tom genuíno de arrependimento — o fez aceitar. Marcaram num café simples, perto do centro.


Quando se encontraram, foi como se a raiva tivesse ficado no asfalto.


— Você parece menos bravo sem um volante na mão — brincou Gabriel.


Lucas riu, relaxando pela primeira vez em dias. Pediram cafés, sentaram-se, e a conversa começou técnica, falando sobre orçamentos, oficinas e seguro. Mas logo deslizou para temas mais leves: livros, filmes, e até futebol — mesmo torcendo por times rivais.


— Eu gosto do seu jeito direto — disse Gabriel. — Mesmo que um pouco... impulsivo.


— E eu do seu bom humor. Nem parece que bateu o carro — retrucou Lucas, sorrindo.


Capítulo 3 – Interseções


As trocas de mensagens aumentaram. Um convite para um food truck novo, uma piada sobre trânsito, um “bom dia” que virou hábito. Sem perceber, Lucas passou a procurar o nome de Gabriel no celular com mais frequência do que gostaria de admitir.


E Gabriel... bem, ele não conseguia parar de pensar no engenheiro de olhos atentos e sorriso contido.


O segundo encontro foi num bar de vinhos — escolha de Lucas. O terceiro, num parque — ideia de Gabriel. No quarto, não houve mais dúvidas.


Foi Gabriel quem tomou a iniciativa, segurando a mão de Lucas com delicadeza. Eles se olharam, em silêncio, até que um beijo tímido selou a nova fase do que havia começado com uma colisão.


Capítulo 4 – Ajustes


Nem tudo foi simples. Lucas, acostumado a uma vida estruturada, estranhava a rotina flexível de Gabriel. Já Gabriel se incomodava com a forma como Lucas parecia esconder o relacionamento dos colegas.


— Você tem vergonha de mim? — perguntou uma noite, no sofá da casa de Lucas.


— Não! É só que... eu nunca namorei um homem antes. É novo pra mim.


Gabriel respirou fundo. — Também é pra mim. Mas se a gente não arriscar, como vai saber?


Lucas encarou o parceiro. E então, como bom engenheiro, decidiu que algumas estruturas valem a reforma.


Capítulo 5 – Horizonte


Meses depois, os carros estavam consertados. Mas o que eles realmente haviam construído era algo muito mais valioso. Um laço que nasceu do caos e floresceu na calmaria.


Num domingo de sol, Gabriel estacionou em frente ao prédio de Lucas. Ele abriu a porta do carro, e dentro havia uma caixinha com duas alianças simples.


— Nada de impacto dessa vez. Só um pedido: vamos continuar construindo isso juntos?


Lucas riu, emocionado. — Só se for com você.


E assim, entre curvas inesperadas, sinais confusos e muitos cafés compartilhados, dois estranhos se tornaram parceiros. Porque às vezes, o destino colide justamente com quem a gente mais precisava encontrar.

Feito por Marta Marinho.




sábado, 3 de maio de 2025

Entre dores e promessas


 


Capítulo 1 – Um Oi no Meio da Dor


Marta estava em casa, havia acabado de deixar o emprego e tentava reorganizar a própria vida. Do outro lado da tela, em um leito de hospital, Allyne enfrentava uma crise severa de endometriose. Era seu quarto dia sem conseguir dormir por causa das dores, nem mesmo os medicamentos mais fortes davam alívio. Sozinha e desconfortável, resolveu abrir o Tinder — talvez, entre uma notificação e outra, encontrasse distração para sua mente cansada.


Foi quando viu Marta. Deram match.


Com coragem tímida, Allyne mandou uma mensagem:

— Oi, bom dia!


Marta respondeu com carinho e atenção. Allyne contou que estava no hospital, sofrendo com a endometriose. Marta, surpresa com a coincidência, logo se compadeceu:

— Eu sei bem o que você está passando. Já tive endometriose também. Vai passar, você vai ficar bem. Eu prometo.


A conversa, que começou com um simples cumprimento, foi se aprofundando ao longo do dia. Compartilharam dores, histórias, sonhos… e quando perceberam, já era madrugada. Quase quatro da manhã.


Allyne hesitou em encerrar o papo.

— Tô com sono, mas também com medo de dormir e essa conversa tão boa acabar.


Marta sorriu do outro lado da tela e respondeu:

— Pode dormir tranquila. A gente vai continuar amanhã. Prometo que vou estar aqui.


— Promete mesmo? — perguntou Allyne, como se precisasse daquela segurança.


— Prometo — confirmou Marta.


E assim foi. Dia após dia, elas continuaram se falando. A cada conversa, um laço novo era costurado entre as duas. Mas havia algo não resolvido no coração de Allyne. Antes de conhecer Marta, ela estava conversando com um rapaz. A dúvida sobre seus sentimentos a fez se afastar por alguns dias. Nesse tempo, adoeceu novamente. E, na solidão do quarto, percebeu o quanto Marta fazia falta. O quanto sua presença, mesmo à distância, era essencial.


Foi então que tomou uma decisão: voltou a falar com Marta, sem rodeios, e se declarou.


Disse que nunca havia namorado uma mulher antes. Que moravam em estados diferentes, embora próximos. Que nada era fácil. Mas que o que sentia era real.


Marta ouviu em silêncio, com o coração apertado — e cheio de esperança.


Algumas semanas depois, Allyne decidiu fazer o impossível parecer simples. Foi até a cidade de Marta acompanhada do pai. E ali, diante dela, segurando uma caixinha pequena nas mãos, fez o inesperado:


— Marta… quer namorar comigo?




Capítulo 2 – A Primeira Promessa


Marta ficou surpresa ao ver Allyne chegando com o pai. Mesmo tendo conversado sobre um encontro, ela não esperava que fosse tão rápido — nem tão intenso. Ver Allyne ali, de verdade, dava àquela conexão virtual um peso completamente novo.


O coração de Marta disparou quando viu a caixinha nas mãos da jovem. Allyne desceu do carro, nervosa, mas determinada. A dor da endometriose ainda rondava seu corpo, mas naquele momento, era o coração que falava mais alto.


Ela se aproximou de Marta, segurou suas mãos e disse, com a voz trêmula:


— Eu sei que isso tudo é meio loucura. A gente mal se conhece pessoalmente… moramos em estados diferentes, você trabalha, eu ainda estou tentando me encontrar, e... bom, eu nunca namorei uma mulher antes. Mas... você me tocou de um jeito que ninguém mais conseguiu. Você ficou comigo nos meus piores dias. Você me fez sorrir quando tudo doía. Por isso, mesmo com todos os obstáculos, eu vim aqui te perguntar: quer namorar comigo?


Marta sentiu os olhos marejarem. Eram muitas emoções de uma vez: a surpresa, a alegria, o medo… e, acima de tudo, o sentimento de que ali havia algo verdadeiro.


Ela sorriu, apertando as mãos de Allyne:


— Eu quero. Quero viver isso com você. Seja como for.


Elas se abraçaram, como se aquele gesto selasse não apenas o começo de um namoro, mas de uma promessa: a de tentarem, de acreditarem, de não deixarem o medo vencer.


Durante os dias que seguiram, Allyne ficou na casa de Marta. Conheceram-se de verdade: os jeitos, as manias, os silêncios. Dormiram juntas, riram muito, choraram também. Marta mostrou seus lugares favoritos — um café pequeno na esquina, a pracinha onde costumava pensar na vida. E Allyne, mesmo lidando com crises de dor, parecia florescer em cada sorriso trocado.


Mas, como toda visita, aquela também teve seu fim. Allyne precisava voltar. Na despedida, choraram abraçadas, mas prometeram se ver de novo logo.


O namoro à distância começava ali, entre chamadas de vídeo, mensagens de bom dia e saudades apertadas.


Parecia difícil. E era.


Mas onde há sentimento, há força.


Capítulo 3 – Entre Telas e Silêncios


A distância logo mostrou suas garras. No início, tudo era entusiasmo: mensagens o tempo todo, chamadas longas antes de dormir, promessas de futuro. Mas conforme os dias passavam, a rotina de Marta — com trabalho, horários apertados e cansaço acumulado — começou a pesar. Allyne, por sua vez, ainda sem emprego, passava os dias entre consultas médicas e momentos de solidão.


Ambas sentiam falta uma da outra, mas começaram a perceber como o tempo podia ser cruel quando não se está perto.


— Você sumiu hoje — disse Allyne numa noite, a voz magoada pelo celular.


— Eu saí do trabalho tão exausta… só queria tomar um banho e deitar. Mas isso não significa que eu não pensei em você — respondeu Marta, tentando equilibrar afeto com sinceridade.


O silêncio entre as duas ficou pesado. Era difícil para Allyne não se sentir deixada de lado. Era difícil para Marta carregar a culpa por estar fazendo o seu melhor — e ainda assim parecer pouco.


Ainda assim, entre tropeços, as duas buscavam se encontrar. Começaram a marcar videochamadas fixas, criaram um diário compartilhado online para escreverem uma para a outra, como se fosse uma ponte feita de palavras.


Mas uma nova dificuldade surgiu: ciúmes.


Allyne via Marta sair com amigos, postar fotos sorrindo, enquanto ela passava os dias em casa. E embora soubesse que não havia motivo para desconfiança, o medo de perder Marta crescia.


— Você ainda fala com outras pessoas do Tinder? — ela perguntou uma vez, sem conseguir esconder a insegurança.


Marta, surpresa, respondeu com firmeza:


— Não. Desde o momento em que você apareceu, não precisei de mais ninguém.


As palavras aliviaram Allyne, mas também a fizeram perceber que precisava confiar — e cuidar de si mesma. Decidiu procurar ajuda médica e psicológica, retomar a vida aos poucos, por ela e por Marta.


Foi nesse processo que decidiram marcar uma nova viagem. Allyne iria até Marta novamente, mas dessa vez por mais dias. Queriam viver o amor sem pressa, longe das telas, perto dos olhos, do toque.


E quando Allyne desceu do ônibus e viu Marta esperando com um buquê simples, mas cheio de significado, teve certeza de uma coisa:


O amor delas valia o esforço.


Capítulo 4 – Na Dor, o Amor Floresce


A segunda viagem de Allyne à cidade de Marta prometia ser mais tranquila. Dessa vez, ela ficaria mais dias, com tudo planejado: cafés tranquilos, noites de filme, passeios de mãos dadas. Era a chance de viver o que a distância tanto atrapalhava.


Mas no terceiro dia, a dor voltou. Forte. Cruel. Implacável.


Allyne acordou no meio da noite, suando, curvada, o rosto pálido. A endometriose, que vinha dando sinais leves nos últimos tempos, atacava com tudo. Marta, acordada pelo gemido de dor, levantou assustada e correu até o quarto.


— Amor? Que foi? Tá com dor?


— Muita… — Allyne respondeu, os olhos marejados. — Tá insuportável, Marta… não consigo…


Marta não pensou duas vezes. Pegou os documentos de Allyne, sua bolsa, e a levou ao hospital. Ficou com ela durante toda a madrugada, segurando sua mão enquanto ela recebia medicação na veia.


Ver Allyne naquela situação despertou em Marta um sentimento profundo de proteção. Ela não era só a garota do Tinder, a mulher dos bons dias trocados por mensagens. Era real. Humana. E vulnerável.


Nos dias seguintes, Marta assumiu o papel de cuidadora com naturalidade. Cozinhava comidinhas leves, preparava compressas, ficava deitada ao lado dela contando histórias para distraí-la da dor.


— Você não precisa fazer tudo isso… — disse Allyne certa noite, com os olhos úmidos.


— Mas eu quero. Eu tô com você pra tudo, não só nos dias bons — respondeu Marta, acariciando seu rosto.


Aquela viagem, que deveria ser leve, virou um mergulho na intimidade mais verdadeira: cuidar e ser cuidada. E ali, mesmo na dor, o amor floresceu mais forte.


Quando Allyne voltou para sua cidade, semanas depois, algo havia mudado. Não era só a saudade que apertava o peito. Era a certeza: estavam construindo algo real, mesmo com todas as dificuldades.


Na próxima visita, Marta seria quem viajaria.


E com ela, levava uma ideia…

Uma caixinha.

Com uma surpresa.


Capítulo 5 – A Caixinha de Marta


Dessa vez, foi Marta quem encarou a estrada.


Saiu do trabalho um pouco mais cedo, coração acelerado, mala pronta, e um pequeno embrulho guardado com carinho entre suas roupas. A viagem até a cidade de Allyne não era longa, mas o tempo parecia se arrastar. Cada quilômetro aproximava Marta da mulher que mudara sua vida em tão pouco tempo — e ela mal podia esperar para vê-la novamente.


Quando Allyne abriu a porta e viu Marta ali, de mochila nos ombros e sorriso aberto, correu para abraçá-la. Foi um daqueles abraços demorados, onde as palavras não são necessárias. Onde o corpo reconhece o lar.


Durante os primeiros dias da visita, Marta foi se adaptando ao universo de Allyne. Conheceu seus cantos preferidos, seus familiares, até mesmo sua médica, que acompanhava a luta contra a endometriose. A rotina era simples, mas havia algo mágico em partilhá-la. Dormir juntas na mesma cama, cozinhar lado a lado, rir de bobeiras no sofá.


Naquela noite em especial, Marta pediu para saírem um pouco. Levaram uma toalha, um vinho suave e alguns petiscos para o alto de uma colina próxima, onde dava pra ver as luzes da cidade. O céu estava limpo, salpicado de estrelas.


Allyne se deitou na toalha, olhando para o céu. Marta ficou um tempo em silêncio, respirando fundo, até criar coragem. Sentou-se ao lado dela e tirou a caixinha da bolsa.


— Lembra daquela primeira vez que você veio me ver? Você chegou com uma caixinha, me surpreendendo… — começou Marta.


Allyne sorriu, já emocionada.


— Hoje é minha vez — continuou Marta, abrindo a caixinha e revelando duas alianças delicadas, com uma pequena pedra de quartzo rosa no centro.


— Eu não sei o futuro. Não sei o que vem pela frente. Mas eu sei o que sinto. E sei que quero continuar caminhando com você, mesmo que às vezes a estrada doa. Mesmo que a distância ainda exista. Porque, Allyne… você é o amor mais verdadeiro que eu já conheci.


Allyne levou a mão à boca, os olhos cheios d’água.


— Isso é… um pedido de noivado? — perguntou com a voz trêmula.


— É um pedido de continuidade. De compromisso. De verdade. — respondeu Marta. — Quer continuar essa história comigo?


Allyne não hesitou.


— Claro que quero. Eu nunca tive tanta certeza de algo na vida.


Elas se beijaram sob as estrelas, selando mais uma promessa.


Duas mulheres, dois corações marcados por dores e distâncias, decidindo todos os dias continuar escolhendo uma à outra.




Capítulo 6 – Um Lugar Só Nosso

O pedido com as alianças trouxe mais do que emoção. Trouxe também perguntas. O que fariam a partir de agora? Continuariam em cidades diferentes? Visitas espaçadas, saudade diária? Ou era hora de pensar em algo mais concreto?

Marta foi a primeira a tocar no assunto, numa manhã tranquila, tomando café ao lado de Allyne:

— Já pensou… na gente morando juntas?

Allyne parou, colher de café no ar. Aquela ideia já havia passeado pela mente dela várias vezes, mas ouvir Marta dizer em voz alta fez parecer mais real.

— Eu já pensei. Mas… é um passo grande, né?

— É. Mas acho que a gente já passou por coisas grandes demais pra ter medo disso agora — respondeu Marta, sorrindo.

Elas começaram a conversar sobre possibilidades. Marta tinha mais estabilidade no trabalho, enquanto Allyne ainda se tratava e buscava oportunidades. A ideia mais viável era que Allyne se mudasse primeiro.

Mas, como tudo entre elas, não seria simples.

A primeira barreira foi emocional: contar para as famílias. A de Marta já sabia de sua orientação, mas nunca tinha visto um relacionamento dela tão sério. A de Allyne, por outro lado, ainda vivia em silêncio sobre o assunto.

Quando Allyne contou à mãe que pensava em morar com Marta, houve silêncio. Depois, perguntas duras, olhares confusos. Mas, surpreendentemente, o pai — que a acompanhara naquela primeira viagem — foi quem a apoiou primeiro.

— Você já sofreu demais, filha. Se essa mulher te faz feliz… então vá. Seja feliz. Eu estarei aqui.

Foi o apoio que Allyne precisava. Começaram os planos. Caixa por caixa, escolha por escolha. Marta ajudava à distância, enquanto Allyne se organizava para a mudança. Era difícil deixar a cidade onde cresceu, a família, os médicos. Mas havia um novo destino à frente. E nela, Marta.

No dia da mudança, choraram na despedida da família. Mas também sorriram, com as mãos entrelaçadas, dentro do carro, rumo a uma nova vida.

Morar juntas era um novo desafio. Manias que antes eram fofas, agora dividiam espaço com as tarefas do dia a dia. Mas, a cada noite, deitavam-se na mesma cama com a certeza de que estavam no lugar certo.

E pela primeira vez, nenhuma das duas dormia com medo da distância. Dormiam juntas.

Finalmente.


Capítulo 7 – Luzes, Promessas e Vida Nova


O som do mar ao fundo, o céu tingido por tons dourados e alaranjados, e uma fogueira acesa na areia. Era ali, entre as ondas e a brisa morna, que Marta e Allyne escolheram dizer sim — em um luau à beira-mar, cercadas por pessoas que aprenderam a amar o que as duas construíram.


Tudo foi planejado com o coração. Nada de luxos, apenas verdade.


Cangas coloridas estendidas na areia, lanternas de papel penduradas em cordas de sisal, e flores tropicais adornando os cabelos e os sorrisos. Os convidados, descalços, formavam um círculo em volta das duas mulheres que, de mãos dadas, sorriam uma para a outra como se o mundo inteiro houvesse parado para vê-las.


Marta usava uma saia longa branca e uma blusa rendada. Allyne escolheu um vestido fluido, com bordados discretos no busto. Ambas usavam colares de conchas e os pés tocavam a areia fria. A fogueira crepitava, testemunha silenciosa do amor que ardia ali.


— Marta — começou Allyne, a voz embargada —, você me encontrou no momento mais frágil da minha vida. Eu achava que estava quebrada… mas você me enxergou inteira. E hoje, ao seu lado, me sinto forte, amada, e completa.


— Allyne — respondeu Marta, segurando com firmeza as mãos da noiva —, você me mostrou que o amor pode ser leve mesmo quando o mundo pesa. Você me ensinou a cuidar e me deixou ser cuidada. Hoje, eu escolho você mais uma vez. E pra sempre.


Com as palmas batendo em ritmo e o som de um violão suave, elas se beijaram sob as estrelas. Dançaram até a madrugada, em volta da fogueira, cercadas por amor, música e mar.


Meses depois, um novo sonho começou a nascer — literalmente.


Allyne engravidou por inseminação artificial. Foi uma decisão pensada, desejada e vivida a dois, com lágrimas de alegria e mãos dadas durante cada consulta. Marta participou de todo o processo, escolheu o doador com ela, leu cada papel, foi em cada ultrassom.


O dia em que viram o coração do bebê bater pela primeira vez, Marta chorou como nunca.


— Tem uma vida aí — ela disse, beijando a barriga de Allyne. — Uma parte de você. Uma parte de mim. Nosso amor tomando forma.


E assim, de uma conversa no Tinder, surgiu uma história feita de promessas cumpridas, desafios superados, e agora… de uma nova vida a caminho.


Uma família.



Capítulo 8 – O Primeiro Choro

Os dias antes do parto foram cheios de expectativa, ansiedade e ternura. A barriga de Allyne crescia, e com ela, crescia também o amor de Marta, que falava com o bebê todas as noites, com a cabeça encostada no ventre da esposa.

— Você nem chegou e já é o nosso mundo inteiro — dizia.

Elas tinham escolhido o nome juntas: Aurora. Porque, como o próprio nome dizia, ela seria o recomeço, a luz depois das dores, a promessa de um novo dia.

O parto aconteceu em uma madrugada chuvosa. Allyne acordou com as contrações e chamou Marta, que pulou da cama em desespero carinhoso. Com a mala pronta, correram para o hospital, rindo entre as dores e nervosas até o último fio de cabelo.

Foram horas intensas, exaustivas, emocionantes.

E então veio o choro.

O som mais bonito que já ouviram.

Aurora nasceu saudável, com os olhos entreabertos e o rostinho tranquilo. Marta chorou descontroladamente quando a colocou nos braços pela primeira vez. Allyne, ainda cansada, sorriu, emocionada, ao ver as duas juntas.

— Ela tem seus olhos — disse Marta, tocando de leve a bochecha da bebê.

Os primeiros dias em casa foram uma montanha-russa: noites em claro, fraldas, choros… mas também sorrisos bobos, cheirinho de recém-nascido, e uma conexão ainda mais profunda entre elas.

Marta se dividia entre o trabalho e os cuidados com a pequena, mas fazia questão de estar presente em todos os momentos possíveis. Allyne, com toda sua entrega, mergulhava na maternidade com doçura e coragem.

Havia exaustão, claro. Mas havia também cumplicidade. E cada pequeno gesto — como um banho dado em dupla, um olhar trocado durante a amamentação, um cochilo a três no sofá — era um lembrete de que tudo valia a pena.

Aurora trouxe uma nova cor ao lar. Um novo ritmo. Um novo centro de gravidade.

E mesmo em meio ao caos das fraldas, das mamadas e dos cochilos interrompidos, Allyne e Marta sabiam que estavam vivendo o capítulo mais bonito da história delas.

Porque o amor agora tinha nome. E dormia ali, entre elas.


Capítulo 9 – Pequenas Grandes Conquistas

Aurora já tinha quase dois anos.

Corria pela casa com passinhos desajeitados, as mãozinhas agitadas no ar, e um sorriso que derretia qualquer tensão. Suas primeiras palavras tinham sido “mamá” e “táta” — sua forma carinhosa de chamar Marta e Allyne, respectivamente. E desde então, o lar era feito de palavrinhas inventadas, brinquedos espalhados, e música infantil tocando o tempo todo.

A rotina era intensa, mas agora bem ajustada. Marta organizava seus horários de trabalho para estar presente nos fins de tarde, quando Aurora ficava mais agitada. Allyne, que retomara os estudos à distância e fazia pequenos freelas de casa, assumia os turnos diurnos.

Mesmo com os cansaços, as olheiras e os desafios típicos da fase, algo brilhava constantemente entre as duas: a parceria. O amor que as uniu havia amadurecido, se transformado em algo mais sólido, mais calmo — mas ainda cheio de paixão.

Certa noite, depois que Aurora adormeceu entre as duas no sofá, Allyne olhou para Marta e sussurrou:

— Às vezes fico lembrando do Tinder… da primeira mensagem no hospital… nunca imaginei que viveria isso.

Marta beijou-lhe a testa e respondeu:

— A gente achava que estava se encontrando por acaso. Mas era destino. Era tudo isso esperando pra acontecer.

Nos fins de semana, elas levavam Aurora à praia. A menininha ria quando sentia a areia nos pés, jogava conchas nas ondas, e adorava ouvir a história do “casamento do papai sol e da mamãe lua”, que Allyne inventara para explicar o céu ao entardecer.

Aurora estava crescendo, sim. Mas Marta e Allyne também. Cada dia com ela as fazia rever prioridades, entender limites, valorizar pequenos silêncios.

Não era mais só um romance. Era uma vida construída com base no afeto, no respeito e na escolha diária de permanecer.

Uma família diferente do esperado, mas exatamente como precisava ser.

E o amor — ah, o amor — esse só crescia.


Capítulo 10 – Novos Sonhos, Novos Passos


O sol entrava pela janela da sala enquanto Aurora rabiscava um caderno com lápis de cor. Marta, sentada ao lado de Allyne, mexia em uma planilha no notebook. O assunto da vez era ousado — mas empolgante.


— E se a gente abrisse algo nosso? — disse Allyne, com brilho nos olhos. — Um espaço nosso, com a nossa cara… algo que represente o que a gente construiu.


— Tipo um café com livraria? — sugeriu Marta. — Ou uma lojinha com produtos artesanais e espaço infantil?


— Algo assim… um lugar onde famílias como a nossa se sintam acolhidas. Onde o amor não precise pedir licença.


As ideias começaram a brotar como sementes bem plantadas. Logo estavam rabiscando nomes, conceitos, possibilidades. A experiência de Marta com gestão e a criatividade de Allyne se complementavam perfeitamente.


Resolveram visitar uma cidade litorânea próxima, onde o ritmo era mais tranquilo e o turismo constante poderia favorecer o negócio. Se encantaram por uma casinha antiga perto da praça central, com paredes de pedra, janelas grandes e um quintal cheio de potencial. Era o cenário ideal para o sonho delas ganhar forma.


Enquanto isso, Aurora crescia feliz, cheia de perguntas e imaginação. Foi ela, com sua espontaneidade inocente, que lançou a pergunta durante um jantar:


— Mamá… a gente vai ter um bebê novo?


Marta e Allyne se entreolharam e riram, surpresas.


— Por que você perguntou isso, pequena? — questionou Allyne.


— Porque meu coração disse — respondeu Aurora, colocando a mão no peito.


Naquela noite, deitadas lado a lado depois que a filha dormiu, o assunto surgiu.


— E se a gente tentasse de novo? — sussurrou Marta.


— Outro filho?


— Outro amor pequeno.


Allyne sorriu, tocando a mão de Marta.


— Eu topo. Com você, eu topo tudo.


E assim, com planos de um novo lar comercial, um possível novo bebê, e um amor que nunca deixou de crescer, Marta e Allyne continuavam escrevendo sua história — feita de coragem, ternura, e laços que nenhum tempo ou desafio seria capaz de desfazer.


Afinal, para quem começou com uma simples mensagem no Tinder… tudo era possível.



Capítulo 11 – Dois Corações e Uma Porta Aberta

A casinha de pedra na cidade litorânea foi reformada com carinho, detalhe por detalhe. Allyne cuidou da estética — escolheu tons claros, plantas suspensas, frases de afeto nas paredes. Marta organizou toda a parte funcional — cardápio, fornecedores, estrutura.

O nome do lugar? "Aurora & Mar" — em homenagem à filha e ao elemento que uniu suas histórias desde o começo.

O espaço tinha cantinho de leitura, área kids, mesinhas ao ar livre, e uma estante com livros infantis, LGBTQIA+ e de acolhimento familiar. Serviam cafés especiais, bolos caseiros, pão de queijo quentinho e sucos naturais. Era mais do que um café — era um refúgio.

Na inauguração, Aurora cortou a fita com uma tesoura de papel decorada com fita rosa. Sorriu, bateu palmas e correu para brincar com outras crianças, enquanto Marta e Allyne se entreolhavam, emocionadas.

— A gente conseguiu — sussurrou Marta, abraçando a esposa por trás.

— E vamos conseguir muito mais — respondeu Allyne, sorrindo com os olhos marejados.

Alguns dias depois, num fim de tarde em que o café estava mais tranquilo, Allyne apareceu no balcão segurando um teste de gravidez.

Marta arregalou os olhos. Ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, o mundo pareceu desacelerar.

— Positivo?

Allyne mordeu o lábio inferior e acenou com a cabeça.

Marta contornou o balcão, a envolveu num abraço firme e as duas choraram ali mesmo, entre xícaras e livros infantis.

— Dois corações novos ao mesmo tempo — disse Marta. — Um dentro de você… e outro aqui, nesse lugar que criamos.

A notícia se espalhou entre os clientes mais próximos, e o “Aurora & Mar” passou a ter mais uma história em suas paredes: a de um amor que não parava de se reinventar.

Com Aurora ansiosa para ser irmã mais velha, o negócio crescendo aos poucos, e uma nova vida se formando no ventre de Allyne, o lar delas transbordava de gratidão.

E mesmo em meio ao cansaço, aos desafios e aos tropeços, uma coisa permanecia firme: o desejo constante de caminharem lado a lado, enfrentando o mundo com coragem, ternura… e muito amor.


Capítulo 12 – Entre Estrelas e Irmãos

A gravidez de Allyne foi tranquila, mas cheia de emoção. Dessa vez, com a experiência anterior, elas se permitiram viver cada etapa com mais calma — registraram fotos, criaram um diário da gestação, e envolveram Aurora em tudo.

— Você quer ajudar a escolher o nome do bebê? — perguntou Marta, certa noite, enquanto penteava os cabelos da filha.

Aurora sorriu, pensativa, e depois de alguns segundos respondeu com firmeza:

— Se for menina, quero que chame Estela, porque parece estrela. E se for menino… Gael, porque é bonito.

O ultrassom confirmou: seria um menino.

Gael.

A chegada dele estava prevista para uma noite de lua cheia — o que fez Allyne sorrir, lembrando do luau onde havia dito sim a Marta. Tudo parecia poeticamente conectado.

O parto foi mais rápido, mas igualmente emocionante. Marta segurou a mão de Allyne o tempo todo, e quando o choro de Gael ecoou pela sala, Aurora, que esperava com os avós do lado de fora, entrou saltitante, carregando um desenho da família com um bebê de cabelo azul.

— Ele vai ter cabelo azul? — perguntou séria.

Marta riu e a pegou no colo.

— No seu desenho, ele pode ter o cabelo que quiser.

Aurora olhou para o irmãozinho nos braços da mãe e ficou quieta por alguns instantes. Depois, encostou o dedo na mãozinha minúscula dele.

— Oi, Gael. Eu sou sua mana. E eu prometo que vou cuidar de você.

Os dias seguintes foram uma mistura doce de caos e ternura. Aurora quis participar de tudo: buscava fraldas, ajudava a embalar o irmão, contava histórias inventadas ao pé do berço. Marta e Allyne observavam com o coração apertado de amor.

O café Aurora & Mar agora tinha um bercinho no cantinho de descanso, uma rede onde Allyne amamentava Gael nas tardes tranquilas, e um painel de fotos com a família crescendo.

Amigos e clientes antigos apareciam para conhecer o novo integrante da história que tanto inspirava. Era como se o amor delas tivesse se tornado parte da cidade.

E à noite, quando todos dormiam, Marta olhava para Allyne com gratidão silenciosa.

— Nunca imaginei isso tudo — sussurrou ela.

— Eu também não — respondeu Allyne. — Mas eu não trocaria por nada.

Entre noites mal dormidas, mãos entrelaçadas, sorrisos bobos e pequenos milagres diários, Allyne, Marta, Aurora e Gael seguiram crescendo… juntos.

Porque família, afinal, é o lugar onde o amor escolhe morar.



Capítulo 13 – Tempestade e Raízes


Cinco anos se passaram.


Aurora agora tinha sete anos. Cabelos compridos, criatividade aflorada e uma paixão por escrever histórias com finais felizes. Gael, com cinco, era o oposto: inquieto, curioso e encantado por desmontar brinquedos para entender como funcionavam.


O café Aurora & Mar seguia como um ponto de encontro acolhedor, agora com oficinas infantis, saraus e tardes de contação de histórias. A rotina familiar era corrida, mas cheia de vida. Marta dividia seu tempo entre a administração do negócio e momentos com os filhos, enquanto Allyne se dedicava à curadoria de eventos no café e à maternidade com toda alma.


Mas, como toda história real, também veio a tempestade.


Uma forte chuva atingiu a cidade. Enchentes invadiram ruas, derrubaram árvores, e o café — que ficava perto da praça — foi atingido.


Na manhã seguinte, Marta estacionou o carro em frente ao local e ficou em silêncio, os olhos fixos na vidraça quebrada, nas cadeiras reviradas, no chão coberto de lama.


Allyne segurou sua mão.


— É só um lugar. A gente reconstrói.


— Mas era o nosso sonho.


— Nosso sonho não acabou. Ele mora na gente. Mora na Aurora e no Gael. Mora na forma como a gente nunca desiste.


Com a ajuda da comunidade, amigos e clientes, começaram uma pequena vaquinha online para reconstruir o espaço. Aurora gravou um vídeo com um cartaz desenhado à mão: “O café do amor precisa da sua ajuda”.


Em uma semana, o valor necessário foi alcançado.


Durante a reforma, organizaram eventos ao ar livre e venderam bolos caseiros para arrecadar mais recursos. As crianças ajudavam como podiam. E naquele processo, Marta percebeu algo que o tempo ensina devagar: às vezes, é no susto que a gente entende o quanto está enraizado.


Quando reabriram o Aurora & Mar, o novo espaço tinha mais luz, mais cor e um mural com a frase escrita por Aurora:


“Depois da tempestade, o amor sempre floresce.”


Marta e Allyne, exaustas e emocionadas, se abraçaram no centro do salão, com Gael correndo ao redor e Aurora lendo um poema no microfone.


A vida não era perfeita. Mas era delas. E cheia de amor.



Capítulo 14 – Quando o Tempo Sorri


Aurora agora tinha dezesseis anos.


Seus cabelos continuavam longos, mas agora tingidos de roxo nas pontas. Era sensível, sonhadora e dona de uma escrita tão poderosa que já havia vencido concursos literários. Estava prestes a lançar seu primeiro livro — uma coletânea de contos sobre amor, identidade e coragem.


Gael, com quatorze, continuava desmontando tudo o que via. Inventava máquinas, criava jogos, e dizia que queria ser “engenheiro de coisas mágicas”. Tinha o brilho inquieto de quem enxerga o mundo por dentro.


O café Aurora & Mar cresceu junto com eles. Agora tinha dois andares, uma pequena editora comunitária e oficinas gratuitas aos sábados. Marta e Allyne ainda cuidavam de tudo com zelo, mas agora também aproveitavam a vida com mais calma — caminhadas na praia, viagens curtas e noites de vinho e silêncio.


Na noite de comemoração do lançamento do livro de Aurora, o café estava cheio. Amigos, vizinhos, professores, clientes antigos… todos queriam prestigiar aquela menina que tinha crescido ali, entre estantes e xícaras.


Allyne subiu ao palco para apresentar a filha, com os olhos marejados.


— Quando escrevemos nossa história, nunca sabemos onde ela vai nos levar. Mas hoje, ao olhar pra Aurora, e pra esse café cheio de vida, eu entendo que o amor que plantamos lá atrás cresceu como uma árvore que dá sombra, flor e fruto.


Aurora leu um trecho do livro, emocionada. Depois, chamou Marta e Allyne ao palco.


— Esse livro só existe porque um dia duas mulheres tiveram coragem de se amar — disse ela. — E de transformar uma mensagem no Tinder em uma vida inteira.


O público aplaudiu de pé.


Gael apareceu com um bolo decorado com estrelinhas e circuitos elétricos desenhados com chocolate — sua homenagem ao passado e ao futuro.


Naquela noite, sob um céu pontilhado de estrelas, Marta e Allyne se olharam como no começo — com o mesmo encantamento, mas agora com mais história.


— Você ainda se lembra do primeiro “oi”? — sussurrou Marta.


— Eu me lembro de tudo. E quero lembrar pra sempre.


E ali, rodeadas por filhos, amigos e memórias vivas, elas entenderam: o tempo sorri para quem escolhe amar, apesar de tudo.


Porque algumas histórias não terminam. Elas florescem. Todos os dias.



Epílogo – O que Fica


Aurora caminhava descalça pela areia da mesma praia onde, anos atrás, suas mães haviam se casado.


Agora com vinte e sete anos, trazia nos olhos o mesmo brilho da infância — mas carregava também a calma de quem já atravessou algumas marés.


Gael morava em outro estado, estudando engenharia e inventando coisas que ninguém ainda entendia direito. Marta e Allyne, aposentadas, seguiam administrando o café por amor — e porque nenhuma delas conseguia ficar longe do cheiro de pão de queijo e das histórias.


Aurora escrevia profissionalmente. Era reconhecida, lida, amada pelas palavras que espalhava. Mas nenhum dos seus livros tinha tanto significado quanto aquele primeiro, lançado na adolescência, inspirado na história de amor que a fez nascer.


Sentou-se na areia com um caderno no colo. Abriu na primeira página. Lá estava a frase que carregava como bússola:


“O amor que nasce do cuidado transforma o mundo — e constrói futuros.”


Ela sorriu, olhou para o mar, e começou a escrever de novo.


Porque, para ela, enquanto o mundo coubesse em palavras, o amor de Marta e Allyne jamais teria fim.



Dedicatória:

A todas as pessoas que ousam amar, mesmo quando o mundo diz o contrário.

E especialmente às famílias construídas com ternura, respeito e presença.

Que nunca nos falte coragem para começar… nem fé para continuar.

Marta Marinho.







Entre Olhares e Silêncios

 



Capítulo 1 – Entre Olhares e Silêncios

Isabela sentia o peso de cada passo ao entrar no consultório. O silêncio branco das paredes ecoava sua ansiedade, como se sua história estivesse sendo contada antes mesmo de ela abrir a boca.

Fazia mais de um ano que havia abandonado o anticoncepcional. A decisão tinha sido dela, e seu corpo reagira de forma confusa. A menstruação desapareceu, dores esporádicas surgiram, e o espelho passou a refletir uma mulher que ela já não reconhecia.

Cláudia entrou pontualmente. O jaleco alinhado, os cabelos presos em um coque e os olhos claros por trás dos óculos lhe davam uma presença calma, quase hipnotizante. Era sua segunda consulta com ela, mas algo naquela médica despertava um sentimento novo e inquietante.

— Você emagreceu — disse Cláudia, com um leve sorriso, enquanto analisava os exames.

— Sim... academia. E dieta. Mas minhas mamas continuam grandes... a senhora tinha dito que iriam diminuir.

Cláudia ergueu os olhos e a observou por um instante mais longo do que o esperado.

— E quem disse que isso é um problema?

Isabela corou. A maneira como a médica falou aquilo... suave, quase como um elogio. Mas logo sacudiu a cabeça, tentando afastar o pensamento. Ela estava ali como paciente, nada mais.

— Doutora... eu tenho sentido dor... durante relações.

— Dor? De que tipo?

Isabela hesitou. Inspirou fundo.

— Sou lésbica.

Cláudia pareceu surpresa, mas não desconfortável. Apenas... tocada.

— Entendo. E por que nunca mencionou isso antes?

— Achei que não fosse necessário... não costumo dizer isso para qualquer pessoa.

— Não precisa ter vergonha de mim, Isabela.

O nome dela na boca de Cláudia soou como um carinho. E por um instante, as duas ficaram presas naquele momento, em silêncio. O ar pareceu mais denso. Mais íntimo.

Isabela se levantou para sair, mas Cláudia a chamou, com a voz mais baixa do que antes.

— Espera. Suas mamas... são lindas, sabia?

Isabela congelou. O coração disparou.

— Doutora...

— Cláudia — corrigiu ela, com um meio sorriso. — Me chama de Cláudia, quando estivermos sozinhas.

— Por quê?

Cláudia deu um passo à frente, mas ainda respeitando o espaço entre elas.

— Porque, às vezes, eu esqueço que sou só sua médica.


Perfeito! Aqui está o próximo capítulo:




Capítulo 2 – Linhas que se cruzam


O dia seguinte amanheceu como qualquer outro, mas nada em Isabela era comum naquela manhã. O toque da médica ainda pulsava em sua memória, mesmo sem ter havido toque algum. Era a voz, o olhar, a maneira como Cláudia havia dito seu nome... Havia algo ali que ultrapassava os limites de uma simples consulta médica.


Tentou se distrair. Foi à academia, conversou com colegas, respondeu mensagens. Mas nada impedia as lembranças de voltarem. A sensação estranha — um misto de confusão, vergonha e... vontade.


No fim da tarde, seu celular vibrou. Uma mensagem inesperada:


Número desconhecido: "Isabela, aqui é a Dra. Cláudia. Desculpa mandar mensagem fora de horário, mas fiquei pensando em você. Queria saber se está tudo bem."


Seu coração disparou. Não sabia se respondia. Mas respondeu.


Isabela: "Oi, doutora... tô bem, sim. Só surpresa por sua mensagem."


Cláudia: "A gente pode conversar? Fora do consultório. Como... mulheres, não médica e paciente."


Isabela relutou por um segundo. Sabia que havia riscos, sabia que aquilo não era o certo, mas havia algo em Cláudia que fazia tudo parecer inevitável.


Isabela: "Pode ser. Hoje?"


Cláudia: "Hoje."





O encontro foi em uma cafeteria discreta, longe do centro da cidade. Cláudia já estava lá, sentada perto da janela, vestindo algo simples, sem o jaleco — e, ainda assim, com a mesma elegância de sempre.


— Obrigada por vir — disse ela, quando Isabela se aproximou.


— Eu ainda não sei por quê estou aqui — respondeu Isabela, sincera.


Cláudia sorriu de leve, como quem entende a dúvida, mas não se arrepende.


— Eu também não sei. Só sei que, desde ontem, você não saiu da minha cabeça. E... isso não é profissional. Eu sei disso.


— Então por que continuar?


Cláudia olhou nos olhos dela. Pela primeira vez, sem máscara, sem crachá, sem autoridade. Apenas mulher.


— Porque com você eu me sinto viva. E eu já passei tempo demais vivendo só pelos outros.


Isabela sentiu o chão fugir. Não estava preparada. Mas, ao mesmo tempo... esperava por isso.


Cláudia estendeu a mão por sobre a mesa, devagar. Isabela, sem pensar, tocou.


Duas mulheres. Duas histórias. Duas solidões que, enfim, se encontravam.






Capítulo 3 – A Travessia


As mãos entrelaçadas sobre a mesa diziam mais do que qualquer palavra. Cláudia parecia aliviada por se permitir sentir, e Isabela, embora assustada, estava entregue ao momento.


— Eu sempre fui tão reservada — disse Cláudia, baixinho. — A medicina me ensinou a controlar tudo. Emoções, impulsos... até a forma de amar. Mas com você, Isabela, eu não consigo manter esse controle.


— E por que eu? — ela perguntou, com a voz embargada. — Eu sou só... uma paciente.


Cláudia sorriu com ternura.


— Não é isso que você é. Desde o primeiro instante, houve algo em você. Uma dor silenciosa. Uma força. Uma doçura também... E talvez porque você não esperava nada de mim, eu quis te dar tudo.


O silêncio que se formou depois foi profundo, denso como um abraço. Ali, naquela cafeteria escondida do mundo, elas atravessavam uma fronteira invisível — de médico e paciente para duas mulheres prestes a viver algo intenso.


**


Nos dias seguintes, Isabela andava diferente. Sentia-se viva, desejada, mas também em conflito. Sabia que aquilo era delicado, perigoso até. Contou apenas à sua melhor amiga, que reagiu com um misto de surpresa e entusiasmo:


— Você tá me dizendo que a médica... aquela médica maravilhosa, elegante, chique... tá apaixonada por você?


— Parece que sim — respondeu, tímida.


— Amiga, isso é um roteiro de filme. Você vai viver isso ou fugir?


Isabela riu, mas no fundo sabia que fugir não era mais uma opção.


**


Já Cláudia, no hospital, carregava um novo brilho nos olhos — e um novo peso no coração. Seus colegas notavam que ela sorria mais, mas ninguém imaginava o motivo. À noite, relembrava cada detalhe da conversa, da pele de Isabela, da coragem que sentiu ao se permitir viver algo fora das regras.


**


Um fim de semana depois, Cláudia a chamou para jantar em sua casa. Foi tudo simples — massa, vinho, uma música suave ao fundo. Mas quando Isabela entrou, viu no olhar da médica algo mais profundo: amor.


— Você tem certeza disso? — perguntou, quando estavam sentadas no sofá, próximas.


— Pela primeira vez em anos, tenho — disse Cláudia, tocando o rosto dela com delicadeza.


Elas se beijaram. Um beijo que não foi apressado, nem tímido. Foi inteiro, entregue. Como se ambas soubessem que ali começava algo que não teria mais volta.



Naquela noite, entre beijos e confidências, lágrimas e carícias, Isabela deixou de ser apenas paciente. E Cláudia deixou de ser apenas médica. Elas se tornaram duas mulheres apaixonadas, atravessando juntas a travessia do medo para o amor.



Capítulo 4 – Tempestades e Coragem


O romance entre Isabela e Cláudia crescia silenciosamente, mas a cada novo passo, surgiam novas dúvidas. Elas se viam em momentos de felicidade genuína, mas também em situações que desafiavam suas convicções. O medo do julgamento, da repressão, da ética que tornava o relacionamento delas tão arriscado, pairava no ar.


Uma manhã, ao entrar no consultório, Isabela notou algo diferente em Cláudia. Ela parecia distante, o olhar cansado, como se carregasse o peso de algo que não poderia compartilhar.


— O que aconteceu? — Isabela perguntou, ao se sentar na cadeira de frente para a médica.


Cláudia desviou o olhar por um momento, antes de respirar fundo e responder:


— Eu... eu pensei que poderia controlar tudo. Mas com você, isso é mais difícil. Tem sido difícil manter a distância profissional... E eu não posso perder meu trabalho. Não posso perder tudo que construí.


Isabela sentiu um nó na garganta. Sabia que Cláudia estava em uma encruzilhada, entre a vida que havia escolhido e a paixão que agora queimava dentro dela.


— Você tem medo do que as pessoas vão pensar? — Isabela perguntou, com a voz suave.


Cláudia olhou diretamente para ela, e pela primeira vez, a médica parecia vulnerável.


— Não é só isso. O que aconteceria se você fosse julgada? Se tudo o que construímos se desmoronasse por causa de um erro? Ou pior, se alguém soubesse que você e eu estamos juntas? Você está disposta a encarar isso?


Isabela se levantou e foi até ela, aproximando-se lentamente. A dor que Cláudia demonstrava a fazia querer abraçá-la, protegê-la.


— Eu não me importo com o que as pessoas pensam, Cláudia. Só me importa o que sentimos uma pela outra. O resto... o resto podemos enfrentar juntas. Mas se você desistir de mim agora... será mais difícil do que qualquer coisa que já tenha enfrentado.


Cláudia a olhou profundamente, os olhos marejados, e Isabela sentiu sua própria alma se quebrar em pedacinhos com o peso daquelas palavras. A vida de ambas estava em jogo, mas o que mais pesava era a intensidade do que elas sentiam.


**


Naquela noite, depois da consulta, Cláudia decidiu se afastar para refletir. Ela precisava de um tempo para pensar, para reorganizar sua vida. O dilema era grande demais para ser resolvido em um simples encontro.


Isabela, no entanto, não conseguiu dormir. Ela sabia que o tempo estava se esgotando, que as palavras de Cláudia ainda ecoavam em sua mente. Estava disposta a enfrentar qualquer coisa, desde que fosse ao lado de Cláudia.


No meio da noite, ela decidiu que não poderia esperar mais. Pegou seu celular e enviou uma mensagem, simples, mas cheia de emoção:


Isabela: "Se for para enfrentar o mundo inteiro, quero fazer isso ao seu lado. Não importa o que aconteça, Cláudia. Não importa se é difícil. Não importa se estamos erradas. O que importa é o que sentimos."


**


Cláudia leu a mensagem antes de dormir, e as palavras de Isabela foram o alicerce que ela tanto precisava. Na manhã seguinte, ela já sabia o que fazer. Precisava dar um passo no escuro, porque, no fundo, sabia que o amor delas não podia ser negado. Não havia mais espaço para esconder o que era verdadeiro.


**


No consultório, o clima estava tenso. Quando Isabela entrou, Cláudia a olhou com um sorriso triste.


— Eu pensei muito, Isabela. Sobre tudo. E sei que talvez eu esteja cometendo um erro, mas... não posso mais viver com medo.


Isabela a encarou, os olhos brilhando.


— Não é um erro, Cláudia. É a nossa chance.


Cláudia se aproximou e, pela primeira vez, tomou a mão de Isabela com firmeza. Era um gesto pequeno, mas significativo. O mundo lá fora podia ser cruel, mas ali, naquele momento, elas tinham uma só verdade.


— Então, vamos enfrentar isso juntas — disse Cláudia, com um sorriso. — Não importa o que aconteça.


Isabela sorriu de volta, um sorriso genuíno, cheio de promessas e coragem.


— Juntas.


E ali, entre um toque de mãos e a confusão do mundo, elas se deram a chance de viver algo real. Não havia mais fronteiras, nem medo, apenas um amor que começava a florescer em meio às tempestades que ainda viriam.



Capítulo 5 – O Caminho das Escolhas

A decisão foi tomada, mas o caminho não seria fácil. O amor que Cláudia e Isabela sentiam uma pela outra ainda enfrentava as sombras da dúvida, os sussurros da sociedade e os próprios fantasmas de suas próprias inseguranças. A cada novo dia, o mundo ao redor parecia querer testá-las, como se o simples ato de se entregarem ao amor fosse um desafio a ser vencido.

Nos dias que se seguiram, elas se viam em encontros furtivos, pequenos momentos roubados do cotidiano que logo seriam consumidos pela necessidade de manter as aparências. Cláudia, ainda em seu consultório, tentava não se deixar levar pela saudade constante, mas as palavras de Isabela, os toques suaves, os olhares carregados de desejo, estavam em sua mente o tempo todo.

A cidade, grande e barulhenta, não sabia o que se passava entre as duas mulheres. Mas havia algo em Cláudia que estava mudando. Ela começava a perceber que não poderia viver uma vida dividida, uma vida em que ela não fosse totalmente ela mesma.

**

Num dia de chuva forte, Cláudia chegou ao trabalho mais cedo do que o habitual. Quando entrou no consultório, notou que havia uma mudança no ambiente. Isabela estava lá, esperando por ela. A jovem estava sentada na cadeira, com uma expressão decidida, mas também com um leve temor nos olhos.

— O que aconteceu? — Cláudia perguntou, seu coração acelerando ao ver Isabela ali, naquele momento tão delicado.

Isabela se levantou, sua postura firme, mas seus olhos mostravam um misto de vulnerabilidade e coragem.

— Eu não posso continuar me escondendo. Não podemos continuar nos escondendo, Cláudia. Eu sei que é difícil, mas não dá mais para viver com essa dúvida. Eu te amo, e não quero mais esconder isso de ninguém, nem de você.

Cláudia sentiu o peito apertar. O que Isabela estava propondo não era simples. Não era só sobre amor, mas sobre todas as consequências disso. O peso das escolhas se tornou mais real naquele instante. Ela estava prestes a entrar numa batalha, não contra algo que estivesse fora de seu controle, mas contra tudo o que ela acreditava ser seguro.

— Você sabe o que isso significa? — Cláudia perguntou, a voz baixa e tensa. — Sabe as implicações disso? Eu não posso simplesmente ignorar o que pode acontecer. Não posso ser imprudente com a sua vida, nem com a minha.

Isabela deu um passo à frente e segurou a mão de Cláudia, seus dedos entrelaçando-se com força.

— Eu sei o que pode acontecer. Mas, ao mesmo tempo, sei o que não pode mais acontecer: ficar na dúvida, viver na sombra, perder o que sentimos. O que é mais importante, Cláudia? A gente se amar ou o que os outros vão pensar?

Cláudia fechou os olhos por um momento. Aquela pergunta fez seu coração acelerar, mas a resposta estava clara dentro dela. Ela sentia o mesmo. Mas a realidade era difícil de aceitar.

— Eu não posso perder minha carreira... a confiança das pessoas. Não posso... — Cláudia começou a dizer, mas Isabela a interrompeu.

— E se você perder o que mais importa, que é a sua verdade? A gente pode enfrentar tudo. Juntas. Vamos enfrentar isso, Cláudia.

As palavras de Isabela eram como um raio, iluminando o caminho escuro diante delas. Cláudia sabia que não poderia continuar vivendo em duas realidades, como se fosse possível manter a fachada e, ao mesmo tempo, viver um amor verdadeiro. Ela não poderia viver para agradar aos outros, se isso significasse negar sua própria felicidade.

Com um suspiro profundo, Cláudia finalmente olhou para Isabela, e um sorriso tímido, mas decidido, apareceu em seus lábios.

— Então vamos. Se for para viver isso, vamos viver de verdade. Sem medo, sem mais hesitação.

**

O caminho a partir dali não seria fácil. No dia seguinte, Cláudia tomou a decisão de falar com a direção do hospital. Ela sabia que o ato de expor sua relação com Isabela poderia ser o fim de sua carreira, mas ao mesmo tempo, ela não poderia mais carregar o peso do segredo. O medo da perda era grande, mas a sensação de estar sendo fiel a si mesma era maior.

Quando a conversa com os superiores aconteceu, o silêncio foi profundo. Eles questionaram, discutiram as possíveis repercussões, mas Cláudia não vacilou. Estava disposta a enfrentar qualquer tempestade, porque seu amor por Isabela valia mais que qualquer título ou reconhecimento.

E quando Isabela soube da coragem de Cláudia, uma onda de alívio e gratidão a envolveu. Elas estavam, finalmente, livres para viver o que sentiam sem as amarras do medo. O julgamento dos outros era apenas uma parte da história. O que importava agora era o que elas construiriam juntas, sem mais segredos, sem mais correntes invisíveis.

**

O tempo passou, e o amor delas se fortaleceu. Enfrentaram desafios, olharam para o futuro com coragem e, ao contrário do que muitas pessoas imaginavam, não perderam tudo. Pelo contrário, conquistaram algo muito mais valioso: a liberdade de serem quem realmente eram, sem medo de se entregar ao que sentiam.

Em um dia de sol quente, Cláudia e Isabela estavam juntas no parque. Caminhavam de mãos dadas, sem se importar com os olhares alheios. O mundo ao redor era grande e barulhento, mas ali, naquele momento, nada mais importava.

O amor delas havia superado todas as barreiras. E agora, não havia mais nada que pudesse detê-las.



Capítulo 7 – O Futuro a Dois


Os meses seguintes foram como uma doce continuidade de tudo o que havia começado. Cláudia e Isabela foram tecendo, dia após dia, os fios do seu futuro, como se costurassem juntas um novo capítulo de suas vidas. A paixão e o companheirismo não eram apenas as bases de seu relacionamento, mas a alavanca que as fazia alcançar novas perspectivas de vida.


Elas finalmente estavam vivendo em sua própria casa. Um lar simples, mas acolhedor. Cada canto, cada detalhe, refletia quem eram: dois corações dispostos a viver o amor de maneira plena, sem medos ou limitações.


Cláudia, que antes passava tantas noites em claro se perguntando sobre as escolhas que fizera, agora olhava para o futuro com a tranquilidade de quem encontrou seu propósito. Isabela, com seu sorriso que iluminava os dias mais nublados, era a razão pela qual Cláudia acreditava que qualquer obstáculo poderia ser superado.


Em uma tarde de sábado, enquanto arrumavam a casa, Isabela entrou com um sorriso de orelha a orelha, segurando um envelope na mão.


— Olha o que eu encontrei na gaveta! — disse, agitada.


Cláudia se aproximou, curiosa, e Isabela entregou-lhe o envelope. Ao abrir, Cláudia viu que era o resultado dos exames ginecológicos que ela havia feito meses antes, antes de começarem sua jornada juntas. Ela havia esquecido completamente daquele momento tenso, mas, agora, com Isabela ao seu lado, ela sentia que a vida seguia num fluxo harmonioso.


— Está tudo bem, Cláudia. Está tudo bem — Isabela sussurrou, abraçando-a.


Cláudia olhou para o resultado dos exames, mas, mais importante que isso, olhou para o amor e a confiança que encontrou em Isabela. Aquela mulher que, no início, parecia ser apenas uma médica com um coração gentil, agora era seu tudo. O apoio, o alicerce, a parceira.


Isabela a olhou nos olhos, com uma seriedade de quem sabia que a vida estava oferecendo um momento único para ambas.


— Eu sempre soube, desde o primeiro momento em que te vi... você é mais forte do que imagina, Cláudia. E, por mais que o caminho tenha sido difícil, nós passamos por tudo isso juntas.


Cláudia sorriu, acariciando o rosto de Isabela. A voz de Isabela, com aquele toque suave e afetuoso, era tudo o que ela precisava para sentir que o mundo, finalmente, estava em equilíbrio.


— Eu não sei o que seria de mim sem você, Isabela. Você me deu a confiança que eu não sabia que existia em mim.


Isabela, com o olhar emocionado, se aproximou para beijá-la. Um beijo calmo, mas cheio de amor e cumplicidade, como um símbolo do novo começo delas.



---


A vida, com suas reviravoltas, trouxe à Cláudia a oportunidade de tomar decisões importantes. Ela havia sido chamada para ocupar uma posição de destaque no hospital, uma proposta que poderia significar uma grande virada em sua carreira. Mas, ao lado de Isabela, ela sentia que as prioridades haviam mudado. Não importava a posição, o reconhecimento ou o título. O que importava era o amor que compartilhavam.


Isabela, por sua vez, também tomou decisões importantes. Ela abriu um pequeno consultório, onde atendia suas pacientes com a mesma dedicação de antes, mas agora com um brilho diferente. Ela não só curava, mas também acolhia as histórias de mulheres como ela, que, muitas vezes, se viam perdidas ou desorientadas, como Cláudia um dia se sentiu.


Em uma noite tranquila, enquanto a lua cheia iluminava o céu, Cláudia e Isabela estavam na varanda, de mãos dadas, observando as estrelas. Elas não precisavam de palavras. O silêncio que as envolvia era suficiente. Sabiam que, a partir dali, o futuro que construíam juntas seria repleto de amor, aceitação e, principalmente, liberdade.


E foi naquela noite, sob o brilho da lua e o aconchego das estrelas, que elas prometeram que, independente de tudo, nunca mais se deixariam apagar uma da vida da outra. Juntas, tinham se encontrado, se libertado e, agora, se amavam de maneira mais profunda do que jamais imaginaram ser possível.


O recomeço delas, com toda sua intensidade e verdade, seria a história que elas contariam para o mundo. E, mais do que isso, seria a história que escreveriam a cada novo amanhecer, juntas.


Fim.




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